segunda-feira, 22 de julho de 2019

Procura-se um "cidadão de bem"!

- Eis, um "cidadão de bem"!

Acordei nesta segunda-feira meio atormentado. O eco das palavras do artista plástico Eduardo Marinho¹, ecoavam em minha mente feito o som de um trovão estrondoso.

Senti necessidade de escrever novamente. Aqui jaz um blog que morre todos os anos e ressuscita!

Assisti a um vídeo do Marinho no Youtube e fiquei maravilhado. Impressionado pela coragem desse filósofo por ter abandonado as chances enquanto jovem de se enquadrar nos padrões do sistema. O maldito sistema!

Voltei a fazer aqueles questionamentos existenciais. Inquietações que lá no fundo do meu eu, sempre soube da resposta: eu era um prisioneiro do sistema. De toda forma de aprisionamento, que vai do econômico, religioso, familiar, educacional, moral, social... O sistema mastiga ao longo do tempo a essência da vida. Mas como perder algo que supostamente nunca tivemos: a vida verdadeira!

O homem que se intitula cidadão, não é um ser único. Existem muitos homens dentro da mente de um único homem. Há uma ligação forte entre o individuo e a sociedade. É dentro da sociedade que o homem monta a sua identidade.

O individuo é uma composição de fragmentos criado pela sociedade. É um ser em mutação física e intelectual constante. 

Nos dias atuais, onde testemunhamos um país dividido pela política e o ódio, a celebre frase de Thomas Hobbes² faz um grande sentido, "o homem é o lobo do homem".

Neste cenário surgiu o "cidadão de bem". Principal protagonista que levou Jair Messias Bolsonaro, ao cargo de Presidente do Brasil. 

O "cidadão de bem" é um refém de suas ambições de consumo e dos seus medos. Mas quem é o "cidadão de bem"? É o assalariado, o trabalhador que paga seus impostos e não ver retorno deles. Independente de classe social ou religião. 

Pagamos um alto índice de impostos e não temos estradas descentes, educação pública de qualidade, segurança presente e tão pouco saúde nos hospitais de nossas cidades. 

O "cidadão de bem" perdeu a esperança quando passou a presenciar a corrupção nas entranhas da política brasileira.

Nos últimos anos foi domesticado a odiar. Nas redes sociais, através dos fake news, nos meios de comunicação de massas principalmente no jornalismo da TV Globo, uma parte dita "cidadão de bem" passou a odiar Lula e o PT.

Tal ódio trouxe a tona o racismo, o preconceito, o desejo pelas armas - prometida por Bolsonaro durante campanha nas eleições de 2018 -, intolerância sexual e religiosa. O "cidadão de bem" tornou-se um reacionário! 

Um antidemocrático, o "cidadão de bem" da classe média bateu panelas e em várias situações pediu a volta dos militares. 

Não posso ser hipócrita. Eu também sou um "cidadão de bem", que acorda às cinco horas da manhã, que vai ao trabalho, que paga impostos, que tem responsabilidades e está perfeitamente enquadrado como um leão enjaulado pelo sistema.

Só uma coisa me faz ser diferente ao "cidadão de bem" intolerante: a esperança! 

É preciso combater os males que se apropriaram do "cidadão de bem". Para que não haja lados. A divisão entre os "cidadãos de bem" só aumentou a intolerância e o medo. Basta!

Procura-se um "cidadão de bem"! Mas que realmente seja do bem. Assim como você.






¹Eduardo Marinho é um artista plástico, escritor, ativista social e filósofo. Ele é protagonista do documentário «Observar e Absorver», produzido em 2016 e dirigido por Júnior SQL e o idealizador do «projeto Via Celestina» que atravessa o Brasil retratando o cotidiano dos artistas de rua.

²Thomas Hobbes foi um matemático, teórico político e filósofo inglês, autor de Leviatã e Do cidadão. Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de um governo e de uma sociedade fortes.



  



      

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