(Luciano Roberto)
Um corpo estendido no chão e uma ceia de Natal
(Capítulo 6 )
FELIZ NATAL!
Enoque
chegava às 16 horas. Merendava, trocava
de roupa. Tornava-se o Papai Noel. No banheiro colocou no pescoço a
gravata adaptada para arma, assim como a barba branca, tudo estava tranquilo.
Caminhou nos corredores do shopping, andando com um enorme saco vermelho e
um sino. Saiu em busca de atrair a atenção das crianças. Andou por todo o
shopping, finalmente, sentou-se na poltrona vermelha.
Pais
acompanhados dos seus filhos começaram aproximar-se do bom velhinho, a fila
estava se formando.
Enquanto
Enoque trabalhava, Mariáh estava em casa. Colocou uma música romântica para
tocar. Lembrou dos momentos bons que passou com o seu professor em São Gabriel
da Cachoeira. Sentiu um peso na consciência quando lembrou da imagem do rapaz
de Barcelos. Não tinha o menor interesse por Enoque, ou tinha? Estava confusa, tinha envolvido ele em
um plano que seria colocado em prática dali a poucas horas. Estava apenas usando o
rapaz? Sentia culpa, mas pensava que também foi usada. Estava criando uma
corrente do mal, onde ninguém realmente se importava com o próximo.
Tudo
isso estava acontecendo próximo ao Natal.
Maráh odiava o Natal. Foi na véspera do Natal que seu pai foi atropelado
por um caminhão guiado por um condutor bêbado. O acidente foi tão violento que
era quase impossível reconhecer o corpo no chão. Via sua mãe gritando
desesperada, pedindo ajuda dos vizinhos e pessoas que passavam na rua. O
motorista fugiu, pagou fiança e continuava em liberdade. Odiava o Natal.
Lembrou-se
quando conheceu o Professor Dr. Joed Silva, fazia poucos meses que seu pai
havia falecido. Ficou intrigada com o jeito sedutor e carinhoso do professor. A
imagem daquele homem em pé, na sala de aula falando com paixão sobre
Arqueologia, lembrava seu pai. Sentiu enorme felicidade quando o professor
tinha selecionado ela para orientar no seu trabalho de dissertação. Se apaixonou.
Passou
a refletir sobre sua própria vida, como estava feliz, como tinha dado orgulho a
sua mãe e família. Mas havia uma ferida dolorida que ainda não havia sido
curada, a falta do seu pai. Ora, o plano estava feito, não voltaria atrás, doa
a quem doer.
Professor
Dr. Joed Silva estava inquieto. Em sua sala não conseguia se concentrar para
ler as pesquisas dos seus alunos. Já era mais ou menos 18hs. Ficou sozinho, a
UFAM estava vazia. “Amanhã é véspera de Natal”, pensou Joed. “Merda de Natal!”.
Terminou seu pensamento.
O
professor levantou-se da sua mesa, pegou algum livro, acendeu um cigarro e
foi em direção ao seu carro. Parou no
“Bar do Cabelo”, no bairro Coroado, próximo da UFAM. Bar bastante frequentado
por estudantes e professores universitários. Pediu uma cerveja de um litro. Foi
atendido, pelo proprietário, o Cabelo. Trocou algumas palavras, acendeu
mais um cigarro. Começou a beber. Bebeu três cervejas, levou quase uma hora para beber cada uma, não
estava porre, mas sabia que a cerveja lhe dava coragem, ou sensação de coragem.
Pagou a conta do bar, entrou no carro e foi para o Shopping Puai.
Chegou
exatamente no horário marcado. Passou em frente ao Papai Noel que estava dando
atenção as crianças. Foi andando para próximo dos janelões de vidro que dava
para ver todo o movimento da Avenida Grande Circular. Pediu uma porção de
salgado com recheio de pirarucu e uma cerveja. Esperou Mariáh.
No
meio da Praça de Alimentação, um cantor se posicionava para cantar. Tocou as
cordas do violão, estava afinado. Dedilhou. Começou a cantar.
“Porto
de lenha tu nunca serás Liverpool, com a cara sarnenta e olhos azuis”...
Os
dedos de Joed começaram a bater na mesa, acompanhando o ritmo da música. Quando
percebeu que vinha em sua direção Mariáh, estava linda, maquiagem ousada,
vestido estilo couro preto brilhante, uma blusa branca, que permitia ver seus
seios, já que não usava sutiã. Cabelo solto, sobre as costas.
Enoque
viu Mariáh indo em direção ao homem que acompanhava ela naquela viagem, quando
vinha de Barcelos. Seus pensamentos fizeram ele deixar por uns poucos momentos
o personagem Papai Noel. O plano de vingança era estúpido, começou a fraquejar,
mas já não podia.
A
ideia que Mariáh apresentou ao Enoque no dia do almoço na Feira do Produtor era
simples. Levar o professor até o shopping, ela se vestiria como ele gostava, provocaria o máximo possível o Dr. Joed. Enquanto isso, o tempo do trabalho de
Enoque terminava. Ao terminar, Enoque fantasiado de Papai Noel caminhava até a
mesa onde estava o professor e Mariáh. Diria o seguinte:
__“Ho!
Ho! Ho! Boa Noite belo casal”. Enoque beijaria Mariáh na sua frente, e ambos iriam
embora.
__
“Perdeu a garota para o Papai Noel seu cuzão”. Enoque diria a última frase. A
arma que tinha sido um presente do pai da Mariáh, não servia para nada. Era
apenas uma espécie de peso para papel. Mas caso o professor Dr. Joed Silva,
tentasse alguma reação, Enoque tiraria debaixo da barba do Papai Noel, apenas
para amedrontar. Era um plano infantil, ambos sabiam.
Mariáh
se aproximou, sorriu, um estouro, um tiro surgiu do nada. Professor Dr. Joed
gritou: “Mariáh!”. O tiro havia atingido o professor. O livro caiu no chão,
assim como o seu corpo. As pessoas que estavam próximas entraram em desespero.
Corriam sem rumo. Enoque tentou se aproximar do corpo da vítima, mas os
seguranças não permitiram.
“Mariáh matou o professor!” Pensou Enoque, o plano era muito tolo, Mariáh queria vingança.
Enoque foi ao banheiro dos funcionários, tirou a roupa, a maquiagem, guardou tudo em seu
armário, inclusive a arma inútil. Voltou para a Praça de Alimentação. No meio
da confusão não tinha percebido o rombo na janela de vidro do shopping. O
professor Dr. Joed Silva, tinha sido vítima de uma bala perdida. O tiro acertou
suas costas, perfurando um dos pulmões e atingindo o coração.
Seu
corpo estava flutuando em seu sangue. Mariáh correu ao encontro do seu mestre. De
joelhos, chorando sem parar, a garota que Enoque começou a amar. Uma dúvida
surgiu ao observar aquela cena: seu amor seria correspondido ou foi apenas
usado, como ela tinha sido usada pelo seu professor orientador?
...
__
“Papai’!”
O
som familiar entrava tão rápido na biblioteca desorganizada, quanto a pessoa
que chamava. Era Isamara. Filha caçula, de apenas seis anos de idade do
Professor Dr. Joed Silva.
Continuou
Isamara:
__
“A mamãe tá vermelha de tanta raiva, os convidados estão chegando para a ceia
de Natal e o senhor não para de escrever. Poxa papai, pare de escrever!”
__
“Terminei filha”...
__
“A vovó também tá chateada com o senhor e o vovô. O vovô já começou a beber
aquele vinho que o senhor comprou. A mamãe mandou avisar que se ela vier até
aqui, o senhor vai ouvir umas poucas e boas. Ela vai fazer o senhor passar
vergonha na frente de toda a família”. Resmungou Isamara.
__
“Tá bom princesa do papai, vamos lá!”
Joed
ajeitou os óculos no rosto, levantou da cadeira, respirou fundo e sorriu.
__
“Papai, sobre o que o senhor estava escrevendo. Era trabalho da universidade?”
Perguntou Isamara, uma menina muito curiosa.
__
“Não filha, estava escrevendo sobre uma moça complicada chamada Mariáh, um
jovem ingênuo cheio de paixão chamado Enoque e a Barba do Papai Noel”.
A
menina olhou para o pai, não entendeu nada. Os dois saíram da biblioteca do
professor. Foram até a sala de visita onde estavam amigos e familiares unidos
para comemorar o Nascimento de Jesus Cristo.
Quando
o professor Dr. Joed Silva apareceu, todos gritaram:
__
“FELIZ NATAL”!
E festejaram aquele dia em harmonia, como centenas e milhares de famílias em todo Brasil.
Mariáh e Enoque eram apenas personagens criados pela imaginação do professor.
FIM
Nota do Autor:
Para você que nos acompanhou até aqui, agradeço e espero que tenha gostado. Como citei, sei das minhas limitações sintaxe e morfológica, mas nem por isso vou deixar de fazer algo que amo, que é escrever. Agora vou dá um tempo e ler! Feliz Natal e um Próspero Ano Novo! Que Deus na sua infinita bondade, possa sempre nos guiar. Que assim seja. Amém!