sábado, 31 de dezembro de 2016

2016: o ano que entra para história com gosto amargo

(Luciano Roberto)

Adeus 2016, seja bem-vindo 2017!

É interessante o poder do calendário, em especial, o nosso gregoriano. Possui 12 meses, e neste ano, foram 366 dias. O tempo passou rápido, 2016 chegou ao fim, surge o Ano Novo, e com ele renovam-se sonhos e esperanças.

Finalmente 2016 terminou! Terminou e deixou um gosto amargo na nossa frágil democracia. Terminou e nos mostrou que tudo é possível, até mesmo usurpar o cargo mais importante do Brasil, como foi tirado da Presidente Dilma Rousseff. Quase 54 milhões de brasileiros que deram mais um voto de confiança para Dilma, assistiram bestializados [outra vez!], pela televisão como se realiza um golpe de Estado, branco, limpo, sem sangue, apenas muita covardia e corrupção.

É impossível esquecer as palavras dos ilustres Deputados Federais no momento em que votaram pelo impeachment: “Por amor a minha esposa, aos meus filhos, aos meus cachorros, aos torturadores da Ditadura civil-militar... eu voto SIM”!

Foi o “sim” da hipocrisia que traiu nossa democracia. Eduardo Cunha presidiu e assistiu tudo de um ângulo privilegiado. Pior, o golpe trouxe um presidente “pinguela” – ponte rústica com paus ou improvisada com troncos – apelido que o TEMERoso recebeu do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso.

A suposta proposta, “Ponte para o Futuro”, tornou-se uma delicada pinguela que o povo brasileiro terá que atravessar nos próximos 20 anos. A tendência é a pinguela quebrar, já que temos hoje o número triste de 12 milhões de brasileiros desempregados.

Nos últimos meses do governo TEMERoso, não vi uma única decisão, uma única fala, um único gesto que pudesse comentar: “Poxa, bacana a decisão do presidente!” Nada... Nadinha mesmo! Não torço para que governo TEMERoso seja medíocre, muito pelo contrário, torço para ele reencontrar o caminho político/econômico para o Brasil voltar a crescer. Mas o TEMERoso é apolítico, pelo menos no sentido de realizar soluções produtivas para o povo brasileiro. Quais soluções? Emprego, carteira de trabalho assinada e dignidade!

Como golpista, TEMERoso foi excelente! Tenho a sensação que é mais fácil provocar um golpe num Estado democrático do que governar para o povo. Não governar para o neoliberalismo, para os empresários, os bancários e o FMI, mas para o povo brasileiro. O povo é o fim, nunca deveria ser o meio!

O ano 2016 é um ano histórico. É o ano onde a primeira mulher reeleita democraticamente para ser presidente do Brasil sofreu injustamente um golpe! É o ano em que as classes dominantes voltaram a amordaçar os sonhos do povo. É o ano em que a extrema direita chegou ao poder, e não foi em qualquer país, mas na maior potência mundial com o “homem cor de laranja”, Donald Trump.

A insanidade solta. Iraque e Síria vivendo uma guerra sem fim. A loucura na cidade de Aleppo mostrando a crueldade humana. O ano 2016 é histórico, tem sabor de golpe, tem sangue, tem guerra e não tem final feliz. Ainda bem que terminou.

Restou-nos renovarmos a esperança em 2017!

É preciso...

domingo, 25 de dezembro de 2016

A barba do Papai Noel (Capítulo final)

(Luciano Roberto)

Um corpo estendido no chão e uma ceia de Natal
(Capítulo 6 )

FELIZ NATAL!

Enoque chegava às 16 horas. Merendava, trocava  de roupa. Tornava-se o Papai Noel. No banheiro colocou no pescoço a gravata adaptada para arma, assim como a barba branca, tudo estava tranquilo. Caminhou nos corredores do shopping, andando com um enorme saco vermelho e um sino. Saiu em busca de atrair a atenção das crianças. Andou por todo o shopping, finalmente, sentou-se na poltrona vermelha.

Pais acompanhados dos seus filhos começaram aproximar-se do bom velhinho, a fila estava se formando.

Enquanto Enoque trabalhava, Mariáh estava em casa. Colocou uma música romântica para tocar. Lembrou dos momentos bons que passou com o seu professor em São Gabriel da Cachoeira. Sentiu um peso na consciência quando lembrou da imagem do rapaz de Barcelos. Não tinha o menor interesse por Enoque, ou tinha? Estava confusa, tinha envolvido ele em um plano que seria colocado em prática dali a poucas horas. Estava apenas usando o rapaz? Sentia culpa, mas pensava que também foi usada. Estava criando uma corrente do mal, onde ninguém realmente se importava com o próximo.

Tudo isso estava acontecendo próximo ao Natal.  Maráh odiava o Natal. Foi na véspera do Natal que seu pai foi atropelado por um caminhão guiado por um condutor bêbado. O acidente foi tão violento que era quase impossível reconhecer o corpo no chão. Via sua mãe gritando desesperada, pedindo ajuda dos vizinhos e pessoas que passavam na rua. O motorista fugiu, pagou fiança e continuava em liberdade. Odiava o Natal.

Lembrou-se quando conheceu o Professor Dr. Joed Silva, fazia poucos meses que seu pai havia falecido. Ficou intrigada com o jeito sedutor e carinhoso do professor. A imagem daquele homem em pé, na sala de aula falando com paixão sobre Arqueologia, lembrava seu pai. Sentiu enorme felicidade quando o professor tinha selecionado ela para orientar no seu trabalho de dissertação. Se apaixonou.    

Passou a refletir sobre sua própria vida, como estava feliz, como tinha dado orgulho a sua mãe e família. Mas havia uma ferida dolorida que ainda não havia sido curada, a falta do seu pai. Ora, o plano estava feito, não voltaria atrás, doa a quem doer.

Professor Dr. Joed Silva estava inquieto. Em sua sala não conseguia se concentrar para ler as pesquisas dos seus alunos. Já era mais ou menos 18hs. Ficou sozinho, a UFAM estava vazia. “Amanhã é véspera de Natal”, pensou Joed. “Merda de Natal!”. Terminou seu pensamento.

O professor levantou-se da sua mesa, pegou algum livro, acendeu um cigarro e foi  em direção ao seu carro. Parou no “Bar do Cabelo”, no bairro Coroado, próximo da UFAM. Bar bastante frequentado por estudantes e professores universitários. Pediu uma cerveja de um litro. Foi atendido, pelo proprietário, o Cabelo. Trocou algumas palavras, acendeu mais um cigarro. Começou a beber. Bebeu três cervejas,  levou quase uma hora para beber cada uma, não estava porre, mas sabia que a cerveja lhe dava coragem, ou sensação de coragem. Pagou a conta do bar, entrou no carro e foi para o Shopping Puai.

Chegou exatamente no horário marcado. Passou em frente ao Papai Noel que estava dando atenção as crianças. Foi andando para próximo dos janelões de vidro que dava para ver todo o movimento da Avenida Grande Circular. Pediu uma porção de salgado com recheio de pirarucu e uma cerveja. Esperou Mariáh.

No meio da Praça de Alimentação, um cantor se posicionava para cantar. Tocou as cordas do violão, estava afinado. Dedilhou. Começou a cantar.

“Porto de lenha tu nunca serás Liverpool, com a cara sarnenta e olhos azuis”...

Os dedos de Joed começaram a bater na mesa, acompanhando o ritmo da música. Quando percebeu que vinha em sua direção Mariáh, estava linda, maquiagem ousada, vestido estilo couro preto brilhante, uma blusa branca, que permitia ver seus seios, já que não usava sutiã. Cabelo solto, sobre as costas.

Enoque viu Mariáh indo em direção ao homem que acompanhava ela naquela viagem, quando vinha de Barcelos. Seus pensamentos fizeram ele deixar por uns poucos momentos o personagem Papai Noel. O plano de vingança era estúpido, começou a fraquejar, mas já não podia.

A ideia que Mariáh apresentou ao Enoque no dia do almoço na Feira do Produtor era simples. Levar o professor até o shopping, ela se vestiria como ele gostava, provocaria o máximo possível o Dr. Joed. Enquanto isso, o tempo do trabalho de Enoque terminava. Ao terminar, Enoque fantasiado de Papai Noel caminhava até a mesa onde estava o professor e Mariáh. Diria o seguinte:

__“Ho! Ho! Ho! Boa Noite belo casal”. Enoque beijaria Mariáh na sua frente, e ambos iriam embora.

__ “Perdeu a garota para o Papai Noel seu cuzão”. Enoque diria a última frase. A arma que tinha sido um presente do pai da Mariáh, não servia para nada. Era apenas uma espécie de peso para papel. Mas caso o professor Dr. Joed Silva, tentasse alguma reação, Enoque tiraria debaixo da barba do Papai Noel, apenas para amedrontar. Era um plano infantil, ambos sabiam.          

Mariáh se aproximou, sorriu, um estouro, um tiro surgiu do nada. Professor Dr. Joed gritou: “Mariáh!”. O tiro havia atingido o professor. O livro caiu no chão, assim como o seu corpo. As pessoas que estavam próximas entraram em desespero. Corriam sem rumo. Enoque tentou se aproximar do corpo da vítima, mas os seguranças não permitiram.

“Mariáh  matou o professor!” Pensou Enoque, o plano era muito tolo, Mariáh queria vingança.

Enoque foi ao banheiro dos funcionários, tirou a roupa, a maquiagem, guardou tudo em seu armário, inclusive a arma inútil. Voltou para a Praça de Alimentação. No meio da confusão não tinha percebido o rombo na janela de vidro do shopping. O professor Dr. Joed Silva, tinha sido vítima de uma bala perdida. O tiro acertou suas costas, perfurando um dos pulmões e atingindo o coração.

Seu corpo estava flutuando em seu sangue. Mariáh correu ao encontro do seu mestre. De joelhos, chorando sem parar, a garota que Enoque começou a amar. Uma dúvida surgiu ao observar aquela cena: seu amor seria correspondido ou foi apenas usado, como ela tinha sido usada pelo seu professor orientador?

...

__ “Papai’!”

O som familiar entrava tão rápido na biblioteca desorganizada, quanto a pessoa que chamava. Era Isamara. Filha caçula, de apenas seis anos de idade do Professor Dr. Joed Silva.

Continuou Isamara:

__ “A mamãe tá vermelha de tanta raiva, os convidados estão chegando para a ceia de Natal e o senhor não para de escrever. Poxa papai, pare de escrever!”

__ “Terminei filha”...

__ “A vovó também tá chateada com o senhor e o vovô. O vovô já começou a beber aquele vinho que o senhor comprou. A mamãe mandou avisar que se ela vier até aqui, o senhor vai ouvir umas poucas e boas. Ela vai fazer o senhor passar vergonha na frente de toda a família”. Resmungou Isamara.

__ “Tá bom princesa do papai, vamos lá!”

Joed ajeitou os óculos no rosto, levantou da cadeira, respirou fundo e sorriu.

__ “Papai, sobre o que o senhor estava escrevendo. Era trabalho da universidade?” Perguntou Isamara, uma menina muito curiosa.

__ “Não filha, estava escrevendo sobre uma moça complicada chamada Mariáh, um jovem ingênuo cheio de paixão chamado Enoque e a Barba do Papai Noel”.

A menina olhou para o pai, não entendeu nada. Os dois saíram da biblioteca do professor. Foram até a sala de visita onde estavam amigos e familiares unidos para comemorar o Nascimento de Jesus Cristo.

Quando o professor Dr. Joed Silva apareceu, todos gritaram:

__ “FELIZ NATAL”! 

E festejaram aquele dia em harmonia, como centenas e milhares de famílias em todo Brasil.

Mariáh e Enoque eram apenas personagens criados pela imaginação do professor.


FIM



Nota do Autor:

Para você que nos acompanhou até aqui, agradeço e espero que tenha gostado. Como citei, sei das minhas limitações sintaxe e morfológica, mas nem por isso vou deixar de fazer algo que amo, que é escrever. Agora vou dá um tempo e ler! Feliz Natal e um Próspero Ano Novo! Que Deus na sua infinita bondade, possa  sempre nos guiar. Que assim seja.  Amém!