sábado, 22 de outubro de 2016

Parabéns Manaus, 347 anos! Mas hoje vou falar da Colônia Antônio Aleixo

(Luciano Roberto)
                                                         

Rio Negro e Solimões: uma beleza vista da Colônia Antônio Aleixo

No próximo dia 24 de outubro, a nossa querida Manaus fará 347 anos. Uma cidade acolhedora, que recebe a todos de braços abertos. Parabéns querida Manaus! Mas hoje vou falar de um dos teus filhos, o Bairro Colônia Antônio Aleixo.  

Nenhum bairro em Manaus é comparado ao Colônia Antônio Aleixo. Sua história, sua gente, suas vitórias e sofrimentos são particularidades deste lugar.

A comunidade Colônia Antônio Aleixo está localizada na Zona Leste de Manaus. É um bairro com características de um pequeno município. Fica aproximadamente a 35 Km do centro da nossa cidade. Situa-se ao lado do Lago do Aleixo, próximo ao encontro dos Rios Negro e Solimões.

Não a toa, sua história está ligada a um período importante da História de Manaus, que é a decadência do ciclo econômico da borracha, quando "em 1930, o presidente Getúlio Vargas ordenou a construção de 16 pavilhões que abrigariam os nordestinos trazidos para reativar os seringais da Amazônia"¹, na região que seria o atual bairro.

O Ciclo da Borracha, que havia trazido prosperidade e progresso a Manaus no final do século 19, e na primeira década do século 20, entrava em decadência por não poder competir economicamente com a produção da borracha na Ásia. 

O furto de 7 mil mudas de seringueiras roubadas pelo inglês Sir Henry Wickham foi a maior extorsão de biopirataria da história da Amazônia. Terminava assim, o ciclo da economia gomífera no Amazonas. Houve uma tentativa de reanimar a mesma economia durante a Segunda Guerra Mundial (1939 -1945), momento em que os Estados Unidos passaram a comprar nossa borracha, mas com o fim da guerra, chegava o fim o sonho de outrora da belle époque manauara.

Em 1942, o mundo vivia os horrores da Segunda Guerra Mundial, surgia o Leprosário Colônia Antônio Aleixo. A Colônia surgiu como espaço de segregação e marginalização. A hanseníase, uma doença registrada até mesmo nos textos bíblicos, tem sua origem na Antiguidade e chega ao auge nos séculos 19 e 20, com o desenvolvimento das indústrias. 

Os pavilhões que haviam sido construídos para abrigar os nordestinos foram abandonados. Foi quando "o doutor Menandro Tapajós, numa viagem a Minas Gerais, convidou o médico mineiro Antonio Aleixo para iniciar um trabalho pioneiro num leprosário"². Daí vem o nome do bairro, Colônia Antônio Aleixo.

Durante quatros décadas a Colônia foi um leprosário. Existem relatos de seus antigos moradores que muitas famílias foram separadas graças a ignorância em relação ao tratamento da doença. Bebês que ao nascerem, eram retirados dos colos de suas mães.  

Apenas em 1979, o leprosário foi desativado, tonando-se um bairro de Manaus, ou seja, "o antigo Hospital-Colônia foi transformada em comunidade aberta"³. Que passou a se desenvolver com suas características únicas. Hoje "o bairro foi dividido em sete comunidades: Fé I, Fé II, Onze de Maio, Nova Esperança, Colônia Antônio Aleixo, Planalto e Buritizal"4.

Personalidades da Colônia Antônio Aleixo, que fazem do bairro um lugar melhor

Uma comunidade é formada por pessoas. Gentes que fazem suas histórias e contribuem para a grandeza do lugar onde fincam suas raízes. Aqui temos relatos de cinco personalidades que responderam a seguinte questão: Qual a importância do bairro Colônia Antônio Aleixo para você?

Angela Braúna, 16 anos

Angela nasceu na maternidade do bairro.

Me chamo Angela, tenho 16 anos, sou estudante do 2º Ano do Ensino Médio da Escola Estadual Gilberto Mestrinho. Irei relatar resumidamente a importância do bairro Colônia Antônio Aleixo para mim. A Colônia Antônio Aleixo é onde eu nasci e me criei. Aqui conheci pessoas que hoje são importantes para mim. Passei por momentos bons e as vezes ruins, mas aqui aprendi a lutar pelos meus objetivos. O que eu sou e aprendi hoje, devo ao bairro onde moro.

Francisco Leite, 33 anos

Micro-empresário: Proprietário da Churrascaria Leite

A importância do bairro Colônia Antônio Aleixo pra mim, é que sou filho do bairro, nasci em 1983,  e vi muita evolução do bairro, e cada dia está progredindo mais. Então me sinto muito importante de ser morador daqui. O Fundamental é que o bairro está se desenvolvendo, temos banco, escolas e posto de saúde. Porque antigamente as coisas eram mais difíceis pra gente, só tínhamos ônibus de duas em duas horas. Agora temos rota de ônibus de 15 em 15 minutos. Por isso fico muito feliz de está morando neste bairro. Aqui, tivemos muitas melhoras.

Hélio Silva, 59 anos

Professor Hélio, 26 anos de dedicação a educação do bairro.

Porque existem pessoas que tem bom coração e são solidárias. Uma comunidade que sabe viver com o seu passado, com a sua marca, por causa da Hanseníase. Povo sofrido, porém amado e que sabe amar, quando respeitado. Quando aqui cheguei há 26 anos atrás, não tinha muitos recursos tecnológicos. Este povo hospitaleiro que sabia e sabe conviver com as indiferenças sociais.

Um bairro diferenciado com uma característica de um município, isto me faz gostar deste lugar, eu poderia ajudar através do meu conhecimento, dedicando-me a educação dos filhos deste lugar. Mostrando que cada um tem o seu valor. Temos uma linda juventude que precisa ser motivada a amar o seu lugar, e eu enquanto professor, estarei fazendo o que posso para ver esta juventude um dia assumindo as lideranças que na comunidade possui, fazendo a diferença entre todos. Uma história de vida que não pode ser jamais esquecida, para o passado e o presente ajudar a formar o futuro da comunidade.    

Itamar Feitosa, 49 anos

O autônomo Itamar, conseguiu  a façanha de 1.321 votos na última  
eleição para vereador, superando dezenas de concorrentes.

Primeiro porque gosto daqui. Segundo eu acredito assim: Deus escolhe onde a gente vai nascer e a gente escolhe onde vai morar. Eu fiquei encantado no dia em que vim aqui, escolhi este bairro para viver e morar com a minha família. Gosto das pessoas e do ambiente, e eu me sinto bem. Aqui, moro há 23 anos!

Noelia Vinente, 49 anos

Professora Noelia Vinente: compromisso e amor com a educação  

Sou Noelia Maria Vinente Pereira, professora há 32 anos, formada em administração e em pedagogia, pós- graduada em Gestão Escolar, Serviço Público, Supervisão e Orientação Educacional. Estou gestora há 21 anos, trabalhei em algumas escolas da comunidade (Escola Municipal São Luiz, Lili Benchimol e Gilberto Mestrinho) e na comunidade do Puraquequara Bela Vista, na Escola Municipal Francisco Nunes. Todos esses anos foi dedicado com muito amor, paixão pelas pessoas, e pela magia de se fazer educação nesse país com tão pouco, que em mãos certas se transformou e agigantou. Poder contribuir um pouco para o crescimento do nosso bairro, é ver que a cada dia uma “semente” que plantei em 1989, hoje floresceu e deu frutos... é o maior presente que Deus poderia me dá. Termino a minha fala com a frase de Cora Coralina: “Feliz, é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.







Referência:

¹ Jornal do Commercio: Manaus 345 anos (24 a 27 de outubro de 2014).

² https://coloniaantonioaleixo.wordpress.com/1-historico-do-bairro/ (Consultado: 22/10/2016)

³ RIBEIRO, Maria de Nazaré de Souza. De leprosário a bairro: reprodução em espaços de segregação na Colônia Antônio Aleixo - Tese Doutorado; (Texto em pdf - Consultado: 22/10/201, p. 35)  


http://www.portalamazonia.com.br/amazoniadeaz/interna.php?id=495 (Consultado: 22/10/2016)










sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A arca de Noé que afundou Serafim Corrêa e seu subsecretário Sérgio Freire¹

(Luciano Roberto)


Até ontem eu era "amigo" no Facebook do cantor amazonense Paulinho Kokai. As músicas deste artista marcou a minha juventude. A primeira vez que eu o vi no palco foi no ano de 1996, quando fui convidado pelo meu ex-professor de História, Edmilson Lima para conhecer o espaço Pantanal, localizado no bairro de Petrópolis. O Pantanal era uma espécie de local dos militantes intelectuais do Partido dos Trabalhadores - PT. Fiquei maravilhado por estar  num ambiente  intelectualizado. Meses depois, um amigo de infância me deu de presente uma fita "demo" do trabalho do cantor, chamado "Zona Morta". Considero uma obra prima, pouco conhecida pela sociedade manauara. Perdi esta preciosidade em minha andanças nos bares da vida. Ainda hoje lamento!

Pois é, tornei-me fã de carteirinha das músicas de Paulinho Kokai, mesmo sem conhecê-lo. Imagine a minha felicidade quando o meu "ídolo" me aceitou como seu "amigo" no face. Caramba, fiquei muito feliz. Inclusive algumas vezes escrevi sobre a minha admiração em relação as suas músicas.

Mas o mundo é muito pequeno, o facebook tornou-o menor. Ontem, como de vício, já que não considero mais de "costume", entrei pela milésima vez no face, e veja que encontro o nome do ex-subsecretário de Educação do Município de Manaus - SEMED, na gestão do ex-prefeito Serafim Corrêa (2005 - 2008). O Sr. Sérgio Freire, irmão do cantor Paulinho Kokai. O ilustre autor do infeliz artigo "A Arca de Noé". O texto que compara professores a diversos bichos.

Tivemos o seguinte diálogo depois que vi o nome do ex-secretário:

EU: Por favor, não me diga que é o imbecil do ex-subsecretário de educação da SEMED, que escreveu o texto mais idiota do mundo sobre os professores.

SÉRGIO FREIRE: Sim, sou eu! (Então colocou uma carinha feliz, circular e amarela).

A atitude em se identificar, acabou me surpreendendo, "Sim, sou eu!". Considerei uma atitude nobre e corajosa, então comecei a escrever um novo texto pedindo desculpas pelas palavras chulas "imbecil e idiota", e passei a falar do seu infeliz artigo, tratando sempre por "senhor", o então ex-subsecretário.

Mas para minha surpresa, o Sr. Sérgio Freire, mandou uma nova frase: "Com qual bichinho você se identificou, Luciano?"

Mais uma vez o ex-subsecretário se demonstrou infeliz. Então, fui extremamente áspero com a minha resposta.

Sabe aquele ditado: "a minha educação depende da sua". Passei a tratar com respeito o ex-secretário, e o cara vem "com qual bichinho você se identificou". Perdeu imediatamente o meu respeito!

Depois de uma resposta cheia de mágoa, um desabafo, o dialogo continuou:

SÉRGIO FREIRE: "Luciano hoje é o meu aniversário. Fique com Deus".

EU: "Parabéns Noé!".

SÉRGIO FREIRE: "Obrigado".

Então o diálogo entre nós acabou. Outras pessoas continuaram defendendo o ex-secretário, mas é insignificante registrar aqui. Seus argumentos eram pífios.

Com uma terrível gripe que não me deixava dormir, passei a pensar no dia em que o artigo foi publicado em um periódico local. Estava em minha sala, número 6, na Escola Municipal Professor Roberto dos Santos Vieira, localizada no bairro João Paulo II, Zona Leste de Manaus. A professora Neiva Barros levou o jornal e perguntou se eu já tinha lido o artigo, "Arca de Noé" do subsecretário de Educação Sérgio Freire. Ainda não, respondi.

Após ler o texto, na hora do intervalo, a decepção, o repúdio, a revolta estava nos olhos de cada professor da escola. Como um homem, que nos representavam, podia escrever algo tão insano como aquele texto. Praticamente colocou a sociedade, que já não nos valorizavam, contra nós, de forma maquiavélica e irresponsável. O maior ato de traição que os professores de Manaus já sofreram. É por este motivo que devemos relembrar, para que atos assim, não aconteça novamente.

Acredito que todo o desejo de um intelectual é ser lembrado pelos seus escritos de forma positiva. Quando penso em poesia, lembro de Augusto dos Anjos e sua única e bela obra "Eu". Quando penso em História, vem em mente os livros de Eric Hobsbawm, Sandra Pesavento e tantos outros.

Outros homens marcaram a história com livros e textos totalmente negativos. Entre eles, só consigo pensar em "Minha Luta" de Adolf Hitler e o artigo "A arca de Noé" do ex- subsecretário Sérgio Freire. Quantas noites de sono deve ter perdido o ex-subsecretario por causa do infeliz texto. Quantas críticas e humilhações não deve ter sofrido.

Os professores passavam por um momento difícil na administração do ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa, também sofreram. Muitos colegas que eram contratados estavam perdendo seus empregos realizando a sua função, ou seja, estavam sendo demitidos dentro das salas de aula. Não critico o fato do ex-prefeito Serafim Corrêa convocar os professores concursados para assumir seus cargos legitimadamente,  através de Concurso Público. Crítico a forma como foi feita a transição.

Acontecia assim: o professor contratado estava em sala de aula, quando chegava um professor concursado para ocupar o seu lugar. Vivenciar este impacto foi doloroso, via a felicidade de quem chegava, por ter conquistado o seu trabalho legalmente, e a tristeza dos colegas que eram substituídos, aqueles que partiam. Os prefeitos, vêm e vão, os subsecretários também, e os professores continuam com a sua missão de construir um Brasil melhor, mais justo e digno para todos.

Quando pensei em escrever este texto, lembrei que tinha uma cópia do "Arca de Noé", no meu arquivo pessoal, mas encontrar esta cópia seria tão difícil, quanto encontrar "uma agulha no palheiro", devido ao caos de organização dos livros, revistas e jornais que tenho. Fui então para a internet, coloquei no Google o seguinte: "ARTIGO A ARCA DE NOÉ DE SÉRGIO FREIRE", tudo em letra maiúscula.

Os primeiros 6 sites são bastantes interessantes. Entre eles descobri o site do ilustre Professor Dr. José Ribamar Bessa Freire, Site Oficial - TAQUI PRA TI - CRÔNICA 717, cujo o título é "O TIO DELE SOU EU", do dia 28 de outubro de 2007, no Diário do Amazonas, onde afirma que "o pecado de Sérgio foi escrever o artigo 'A Arca de Noé' [...]".

Outro documento é o ofício nº 1510/2007, da Câmara Municipal de Manaus. Diz o seguinte:

"Manaus, 19 de dezembro de 2007.

Ao Senhor
SÉRGIO AUGUSTO FREIRE DE SOUZA
Professor

Assunto: Encaminhamento.

Prezado Senhor,

Estamos encaminhando, à sua apreciação, cópia da MOÇÃO N. 0436/2007, aprovada no dia 6 de dezembro de 2007, neste egrégio Poder Legislativo, da lavra do ilustre Vereador PAULO CARLOS DE'CAELI, com subscrição de outros Parlamentares, manifestando repúdio ao texto de sua autoria, intitulado 'A Arca de Noé'".
O ofício é assinado pelo presidente João Leonel de Britto Feitoza.
O oficio parece ser um ato político, mas não cabe ao historiador manifestar a sua opinião. Talvez os historiadores de um futuro próximo possam tratar de tal questão, com mais dedicação. O ofício tem outra citação importante:

[...]
"O texto intitulado 'A Arca de Noé' publicado no dia 19 de setembro em periódico matutino, é uma afronta aos professores, pois os compara, de forma humilhante, com animais. Não pode, quem quer que seja, deixar de admitir que professores são desvalorizados e humilhados pelos governantes, estes que não se dignam a remunera-los, tampouco dar-lhes condições de um trabalho digno".

Dos 36 vereadores da época, apenas 8 não assinaram o ofício. São eles: Braz Silva (PSDC), Irailton Sena (PT do B), Leonel Feitoza (PSDB), Mirtes Sales (PP), Massami Miki (PSL), Nélson Amazonas (PMDB), Paulo Nasser (PSC) e Vitor Monteiro (PTN).
Muito foi debatido, escrito nos meios de comunicação e entre os professores sobre o assunto. No site O MALFAZENO, de 8 de novembro de 2007, foi escrito o artigo chamado "Noé foi atirado ao Mar", de Ismael Benigno, que questiona o fato de "tanta discussão e alvoroço gerou, que o artigo acabou por derrubar Sérgio - ou, parafraseando-lhe, deixá-lo de fora da grande barca. A bicharada das pajelas e do giz lhe atirou ao mar. Convenhamos, não era pra menos. Comparar os professores a preguiças, pavões, antas, morcegos, aranhas, hienas e urubus não foi, digamos, a forma mais feliz de homenagear aqueles com quais Sérgio trabalhava".

Um país que almeja crescer economicamente, culturalmente e socialmente, tem a obrigação de respeitar seus professores. Como um animal racional,  homo sapiens sapiens!

¹ Escrevi este texto há três anos atrás. Relembrar fatos como o texto do Sr. Sérgio Freire sempre é importante, para que nunca mais venha se repetir.

Sites consultados:

Texto "A Arca de Noé": blogsergiofreire.blogspot.com.br/2008/10/arca-de-no.html.

omalfazejo2.wordpress.com.br/2007/11/08noe-atirado-ao-mar/
(Consultado em 06 de setembro de 2013)

www.sergiofreire.com.br/RepudioSergioFreire.PDF
(Consultado em 06 de setembro de 2013)

www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=114
(Consultado em 06 de setembro de 2013)


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A corrupção tem história

(Luciano Roberto)



A corrupção tem história. Ela não é uma prioridade das sociedades contemporâneas. Feito um vírus, a corrupção vem ao longo dos séculos se desenvolvendo como uma peste, que apenas torna-se mais forte, poderosa e dolorosa.

Não escrevo e nem tenho a pretensão de escrever para ofender os nobres políticos brasileiros. Deixo esta função a grande mídia, que possui um vasto material disponível. Aliás, a corrupção passou a ser um produto de consumo, é vendida como notícia diariamente. 

Procuro apenas, buscar a compreensão da origem da corrupção. Sendo assim, o primeiro passo é conhecer a etimologia da palavra corrupção: "Antes de designar a venda ilegal de favores por representantes do poder público, corrupção é deterioração, decomposição física, apodrecimento. "Corrupto" vem do latim corruptus, particípio de "corromper": é o corrompido, o podre, o que se deixou estragar"¹. Ah, tá explicado! Corrupção está ligado a podridão.

A corrupção é um espectro que assombra e se espalha pelo nosso país. Um parasita que se alimenta e mata lentamente milhares de brasileiros diariamente. Ela está sorrindo nas filas dos hospitais públicos, quando humildes cidadãos estão em busca de socorro. Ela incita a ignorância nas escolas públicas sem estrutura suficiente para proporcionar uma educação de qualidade. Quanto a educação pública, o sistema e seus mecanismos estão mais preocupados em quantidade do que qualidade. A corrupção é um vírus parasita. E o povo, o seu hospedeiro.

Encontramos a corrupção na Antiguidade. Nas famosas cidades-Estado gregas, a qual damos o nome de pólis. Atenas foi vítima deste vírus, mas, graças a corrupção engrandeceu.

Durante as Guerras Médicas, também conhecida como Guerras Greco-Persas (499 a.C. - 449 a.C.), os persas decidiram invadir as pólis gregas. Para combater a invasão persa, foi criada a Liga de Delos, organizada por Atenas. A Liga de Delos foi a união entre as pólis gregas para enfrentarem um inimigo comum.

Atenas, berço da filosofia e da democracia tornou-se a líder da Liga de Delos. As pólis que tiveram destaque neste período, podemos citar Esparta, Tebas, Creta entre outras.

É interessante observar que as pólis eram independentes umas das outras. Cada pólis tinha a sua economia, seu governo e sua própria cultura.

A língua grega era a única motivação que unia as pólis. Esta união levou a derrota dos persas.

A Liga de Delos permaneceu após as Guerras Médicas. Os aliados que faziam parte dela, tinham que contribuir com navios, equipamentos e dinheiro. Como já não havia guerras, o governo de Perícles achou melhor utilizar os recursos dos seus aliados para financiar várias obras públicas em Atenas, e supostamente, a benefício próprio.

O mal uso dos recursos dos aliados usado de forma a beneficiar Atenas, foi o estopim para o surgimento de uma nova guerra: Guerra do Peloponeso (431 a.C. - 404 a.C.). Esparta liderou a batalha contra Atenas.

Esparta saiu vitoriosa. A corrupção levou ao fim do imperialismo ateniense. Mas pasme, Esparta passou a usar a mesma política corrupta de Atenas, obrigando seus aliados a pagarem impostos a pólis espartana. Conclusão: várias guerras levaram  a decadência da Grécia Antiga. As pólis enfraquecidas, foram presas fáceis de serem conquistadas pelos macedônios.

As pólis gregas foram infectadas pelo vírus da corrupção. Corrupção neste sentido, está ligada intrinsecamente ao poder.

Vamos pensar em outra grande civilização da Antiguidade, a romana. Destaco resumidamente, o exemplo do ditador Júlio César. Mas, poderíamos citar Calígula, Nero etc.

Júlio César teve uma carreira política rápida. Tornou-se ditador de Roma. Seus poderes eram vitalícios, mas para ele, era pouco. Júlio César queria que seus poderes fossem hereditários. Passado aos seus descendentes. Só tinha um probleminha, Roma era uma República, e seus senadores sentiram cheiro de corrupção, então decidiram matar Júlio César com punhaladas.

Cada senador aplicou um golpe sobre o corpo do ditador. Júlio César se deixou estragar pela ambição do poder.

Talvez não haja na história maior exemplo de corrupção do que ocorreu na Idade Média. Neste período, a Igreja Católica era a instituição mais poderosa da Europa.

Foi durante o papado do Papa Leão X, que surgiu a venda de indulgências. Ocorria mais ou menos assim a máfia da igreja. O indivíduo pecava, matava, roubava ou adulterava e se arrependia. Então o remorso tomava conta da sua alma. O medo de ir direto para o inferno batia em seus pesadelos. Mas havia uma forma de livrar-se do pecado: pagar indulgências para igreja. Pagava e logo era perdoado.

Esta situação, levou um jovem monge intelectual alemão a se revoltar, chamado Martinho Lutero. O jovem mongem, foi responsável pelo surgimento da Reforma Protestante.

A Reforma Protestante levou ao fim o poder absoluto da Igreja Católica sobre diversos países do velho continente. Surgiram novas instituições religiosas como a luterana, calvinista e anglicana. Este movimento reformista cristão levou centenas de pessoas a morte. Graças a corrupção.

Poderia citar outros exemplos de corrupção na história, mas o texto tornaria-se extenso demais.

Vamos agora, finalmente falar sobre a história da corrupção em nosso país. A corrupção no Brasil chegou com Pedro Álvares Cabral e até o momento em que escrevo, ainda não teve fim...        





¹ http://www.dicionarioetimologico.com.br/ (Acessado: 19/10/2016)

domingo, 16 de outubro de 2016

Arthur Neto x Marcelo Ramos: e a política do "café com leite"

(Luciano Roberto)

Arthur Neto (PSDB) e Marcelo Ramos (PR)

Em 1889, o Brasil viveu um grande momento histórico. Deixou de ser uma monarquia e tornou-se uma república. Foi uma revolução, mas diferentes das revoluções francesa, russa e cubana, não houve a participação do povo brasileiro.

Anos mais tarde, o genial historiador José Murilo de Carvalho escreveria sua grande obra "Os Bestializados". A obra retrata o episódio ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil.

O título do livro é baseado na famosa frase de Aristides Lobo, que escreveu o artigo "O povo assistiu àquilo bestializado", em 1889. Resumindo: o povo dormiu em um país monárquico e acordou em um país republicano.

Então tivemos o primeiro presidente do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), um militar. Depois o alagoano Floriano Peixoto (1839-1895) - outro militar, só pra variar - e finalmente, o poder executivo foi entregue a um civil, Prudente de Morais (1841-1895).

Nascia no Brasil, o período conhecido como República das Oligarquias. Os grandes latifundiários passaram a governar o país. Com uma peculiaridade, Minas Gerais e São Paulo se reversavam no poder. E permaneceram até 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder.

Tive que realizar este pequeno contexto histórico, para falar dos nossos nobres candidatos a prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB) e Marcelo Ramos (PR).

Arthur Neto tem o apoio do atual Senador Eduardo Braga (PMDB).

Marcelo Ramos tem um apoio mais pomposo, composto pelo Governador José Melo (Pros), Senador Omar Aziz (PSD), Alfredo Nascimento (PR), sendo que no último debate transmitido pela TV Bandeirantes, Arthur Neto acusou Marcelo Ramos de receber apoio do velho cacique Amazonino Mendes (PDT). Só gente boa!

Se o velho boto tucuxi Gilberto Mestrinho fosse vivo, estaria neste meio com certeza. São os mesmos que estão mamando nas tetas do governo há quase três décadas. Aliás, é impossível lembrar do velho Raposo sem cantarolar "pelo rio o caboclo navega sem medo oh!oh!oh!"...

Toda essa quantidade de nobres políticos faz eu lembrar a poesia "Quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade: "João amava Teresa que amava Raimundo / que amava Joaquim que amava Lili / que não amava ninguém"(...). Na minha humilde versão, ficou assim: "Gilberto Mestrinho que criou Amazonino Mendes / que criou Eduardo Braga que criou Alfredo Nascimento e Omar Aziz / que criou José Melo que ainda não criou ninguém". Será o Marcelo Ramos a primeira criação do governador?

José Ricardo (PT) e Hissa Abrahão (PDT), ambos candidatos a prefeito no primeiro turno, fizeram bem em não divulgar apoio a nenhum dos dois candidatos no segundo turno. O Hissa Abrahão saiu enfraquecido nesta eleição, deve ter aprendido a lição nas eleições de 2012, quando foi vice de Arthur Neto, que soube usar o jovem político como ninguém.

Arthur Neto e Marcelo Ramos estão revivendo a política "café com leite". Há muito tempo seus apoiadores estão se reversando no poder. Uma hora são aliados, noutra são inimigos mortais. Quem será o vencedor no próximo dia 30 de outubro? Façam suas apostas! Eu já tenho o meu candidato, e você?