Até
ontem eu era "amigo" no Facebook do cantor amazonense
Paulinho Kokai. As músicas deste artista marcou a minha juventude. A
primeira vez que eu o vi no palco foi no ano de 1996, quando fui
convidado pelo meu ex-professor de História, Edmilson Lima para
conhecer o espaço Pantanal, localizado no bairro de Petrópolis. O
Pantanal era uma espécie de local dos militantes intelectuais do
Partido dos Trabalhadores - PT. Fiquei maravilhado por estar num ambiente intelectualizado. Meses depois, um amigo de infância
me deu de presente uma fita "demo" do trabalho do cantor,
chamado "Zona Morta". Considero uma obra prima, pouco
conhecida pela sociedade manauara. Perdi esta preciosidade em minha
andanças nos bares da vida. Ainda hoje lamento!
Pois é,
tornei-me fã de carteirinha das músicas de Paulinho Kokai, mesmo
sem conhecê-lo. Imagine a minha felicidade quando o meu "ídolo"
me aceitou como seu "amigo" no face. Caramba, fiquei
muito feliz. Inclusive algumas vezes escrevi sobre a minha admiração
em relação as suas músicas.
Mas o
mundo é muito pequeno, o facebook tornou-o menor. Ontem, como de
vício, já que não considero mais de "costume", entrei
pela milésima vez no face, e veja que encontro o nome do
ex-subsecretário de Educação do Município de Manaus - SEMED, na gestão do ex-prefeito Serafim Corrêa (2005 - 2008). O Sr.
Sérgio Freire, irmão do cantor Paulinho Kokai. O ilustre autor do
infeliz artigo "A Arca de Noé". O texto que compara
professores a diversos bichos.
Tivemos
o seguinte diálogo depois que vi o nome do ex-secretário:
EU: Por
favor, não me diga que é o imbecil do ex-subsecretário de educação
da SEMED, que escreveu o texto mais idiota do mundo sobre os professores.
SÉRGIO
FREIRE: Sim, sou eu! (Então colocou uma carinha feliz, circular e
amarela).
A
atitude em se identificar, acabou me surpreendendo, "Sim, sou
eu!". Considerei uma atitude nobre e corajosa, então comecei a
escrever um novo texto pedindo desculpas pelas palavras chulas
"imbecil e idiota", e passei a falar do seu infeliz artigo,
tratando sempre por "senhor", o então ex-subsecretário.
Mas para minha surpresa, o Sr. Sérgio Freire, mandou uma nova frase: "Com qual bichinho você se identificou, Luciano?"
Mas para minha surpresa, o Sr. Sérgio Freire, mandou uma nova frase: "Com qual bichinho você se identificou, Luciano?"
Mais uma
vez o ex-subsecretário se demonstrou infeliz. Então, fui extremamente
áspero com a minha resposta.
Sabe
aquele ditado: "a minha educação depende da sua". Passei
a tratar com respeito o ex-secretário, e o cara vem "com qual
bichinho você se identificou". Perdeu imediatamente o meu
respeito!
Depois
de uma resposta cheia de mágoa, um desabafo, o dialogo continuou:
SÉRGIO
FREIRE: "Luciano hoje é o meu aniversário. Fique com Deus".
EU:
"Parabéns Noé!".
SÉRGIO
FREIRE: "Obrigado".
Então o
diálogo entre nós acabou. Outras pessoas continuaram defendendo o
ex-secretário, mas é insignificante registrar aqui. Seus argumentos
eram pífios.
Com uma terrível gripe que não me deixava dormir, passei a pensar no dia em
que o artigo foi publicado em um periódico local. Estava em minha
sala, número 6, na Escola Municipal Professor Roberto dos Santos
Vieira, localizada no bairro João Paulo II, Zona Leste de Manaus. A
professora Neiva Barros levou o jornal e perguntou se eu já tinha
lido o artigo, "Arca de Noé" do subsecretário de Educação
Sérgio Freire. Ainda não, respondi.
Após
ler o texto, na hora do intervalo, a decepção, o repúdio, a
revolta estava nos olhos de cada professor da escola. Como um homem,
que nos representavam, podia escrever algo tão insano como aquele
texto. Praticamente colocou a sociedade, que já não nos
valorizavam, contra nós, de forma maquiavélica e irresponsável. O
maior ato de traição que os professores de Manaus já sofreram. É
por este motivo que devemos relembrar, para que atos assim, não
aconteça novamente.
Acredito
que todo o desejo de um intelectual é ser lembrado pelos seus
escritos de forma positiva. Quando penso em poesia, lembro de Augusto
dos Anjos e sua única e bela obra "Eu". Quando penso em
História, vem em mente os livros de Eric Hobsbawm, Sandra Pesavento
e tantos outros.
Outros
homens marcaram a história com livros e textos totalmente negativos.
Entre eles, só consigo pensar em "Minha Luta" de Adolf
Hitler e o artigo "A arca de Noé" do ex- subsecretário
Sérgio Freire. Quantas noites de sono deve ter perdido o
ex-subsecretario por causa do infeliz texto. Quantas críticas e
humilhações não deve ter sofrido.
Os professores passavam por um momento difícil na administração do ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa, também sofreram. Muitos colegas que eram contratados estavam perdendo seus empregos realizando a sua função, ou seja, estavam sendo demitidos dentro das salas de aula. Não critico o fato do ex-prefeito Serafim Corrêa convocar os professores concursados para assumir seus cargos legitimadamente, através de Concurso Público. Crítico a forma como foi feita a transição.
Acontecia assim: o professor contratado estava em sala de aula, quando chegava um professor concursado para ocupar o seu lugar. Vivenciar este impacto foi doloroso, via a felicidade de quem chegava, por ter conquistado o seu trabalho legalmente, e a tristeza dos colegas que eram substituídos, aqueles que partiam. Os prefeitos, vêm e vão, os subsecretários também, e os professores continuam com a sua missão de construir um Brasil melhor, mais justo e digno para todos.
Os professores passavam por um momento difícil na administração do ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa, também sofreram. Muitos colegas que eram contratados estavam perdendo seus empregos realizando a sua função, ou seja, estavam sendo demitidos dentro das salas de aula. Não critico o fato do ex-prefeito Serafim Corrêa convocar os professores concursados para assumir seus cargos legitimadamente, através de Concurso Público. Crítico a forma como foi feita a transição.
Acontecia assim: o professor contratado estava em sala de aula, quando chegava um professor concursado para ocupar o seu lugar. Vivenciar este impacto foi doloroso, via a felicidade de quem chegava, por ter conquistado o seu trabalho legalmente, e a tristeza dos colegas que eram substituídos, aqueles que partiam. Os prefeitos, vêm e vão, os subsecretários também, e os professores continuam com a sua missão de construir um Brasil melhor, mais justo e digno para todos.
Quando
pensei em escrever este texto, lembrei que tinha uma cópia do "Arca
de Noé", no meu arquivo pessoal, mas encontrar esta cópia
seria tão difícil, quanto encontrar "uma agulha no palheiro",
devido ao caos de organização dos livros, revistas e jornais que
tenho. Fui então para a internet, coloquei no Google o seguinte:
"ARTIGO A ARCA DE NOÉ DE SÉRGIO FREIRE", tudo em letra
maiúscula.
Os
primeiros 6 sites são bastantes interessantes. Entre eles descobri o
site do ilustre Professor Dr. José Ribamar Bessa Freire, Site
Oficial - TAQUI PRA TI - CRÔNICA 717, cujo o título é "O TIO
DELE SOU EU", do dia 28 de outubro de 2007, no Diário do
Amazonas, onde afirma que "o pecado de Sérgio foi escrever o
artigo 'A Arca de Noé' [...]".
Outro
documento é o ofício nº 1510/2007, da Câmara Municipal de Manaus.
Diz o seguinte:
"Manaus,
19 de dezembro de 2007.
Ao
Senhor
SÉRGIO
AUGUSTO FREIRE DE SOUZA
Professor
Assunto:
Encaminhamento.
Prezado
Senhor,
Estamos
encaminhando, à sua apreciação, cópia da MOÇÃO N. 0436/2007,
aprovada no dia 6 de dezembro de 2007, neste egrégio Poder
Legislativo, da lavra do ilustre Vereador PAULO CARLOS DE'CAELI, com
subscrição de outros Parlamentares, manifestando repúdio ao texto
de sua autoria, intitulado 'A Arca de Noé'".
O ofício
é assinado pelo presidente João Leonel de Britto Feitoza.
O oficio
parece ser um ato político, mas não cabe ao historiador manifestar
a sua opinião. Talvez os historiadores de um futuro próximo possam
tratar de tal questão, com mais dedicação. O ofício tem outra
citação importante:
[...]
"O
texto intitulado 'A Arca de Noé' publicado no dia 19 de setembro em
periódico matutino, é uma afronta aos professores, pois os
compara, de forma humilhante, com animais. Não pode, quem quer que
seja, deixar de admitir que professores são desvalorizados e
humilhados pelos governantes, estes que não se dignam a
remunera-los, tampouco dar-lhes condições de um trabalho digno".
Dos 36
vereadores da época, apenas 8 não assinaram o ofício. São eles:
Braz Silva (PSDC), Irailton Sena (PT do B), Leonel Feitoza (PSDB),
Mirtes Sales (PP), Massami Miki (PSL), Nélson Amazonas (PMDB),
Paulo Nasser (PSC) e Vitor Monteiro (PTN).
Muito
foi debatido, escrito nos meios de comunicação e entre os
professores sobre o assunto. No site O MALFAZENO, de 8 de novembro
de 2007, foi escrito o artigo chamado "Noé foi atirado ao Mar",
de Ismael Benigno, que questiona o fato de "tanta discussão e
alvoroço gerou, que o artigo acabou por derrubar Sérgio - ou,
parafraseando-lhe, deixá-lo de fora da grande barca. A bicharada das
pajelas e do giz lhe atirou ao mar. Convenhamos, não era pra menos.
Comparar os professores a preguiças, pavões, antas, morcegos,
aranhas, hienas e urubus não foi, digamos, a forma mais feliz de
homenagear aqueles com quais Sérgio trabalhava".
Um país
que almeja crescer economicamente, culturalmente e socialmente, tem a
obrigação de respeitar seus professores. Como um animal racional, homo sapiens sapiens!
¹ Escrevi este texto há três anos atrás. Relembrar fatos como o texto do Sr. Sérgio Freire sempre é importante, para que nunca mais venha se repetir.
omalfazejo2.wordpress.com.br/2007/11/08noe-atirado-ao-mar/
(Consultado
em 06 de setembro de 2013)
www.sergiofreire.com.br/RepudioSergioFreire.PDF
(Consultado
em 06 de setembro de 2013)
www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=114
(Consultado
em 06 de setembro de 2013)
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