sábado, 17 de janeiro de 2015

Só essa mulher mesmo, para amar tanto assim!


Só essa mulher mesmo, para me amar tanto assim!
            É... sem perceber os dias foram passando e quando dei por mim, já fazia 17 dias que eu não ligava, e tão pouco visitava a mulher que me ama. A última vez que a vi, foi na virada do ano. “Adeus ano velho, feliz ano novo”... Grande coisa, o ano se foi, mas alguns problemas acabam ficando. O que falar das intermináveis prestações do carro que ainda faltam pagar?
            O tempo anda rápido, ou melhor, voa rápido. Já se passaram 17 dias, desde que o ano novo começou. Que excremento sou eu que não vi o tempo passar? Enquanto isso, a mulher que me ama, continua esperando. Um telefonema seria o mínimo de consideração por minha parte.
            Dois irresponsáveis: eu e minha ociosidade, apaixonados por um livro. Deitado na cama, consumidos por um orgasmo intelectual da história da desigualdade social. Tentando entender “O Capital no século XXI”, do francês Thomas Piketty. Viajando nos primórdios do capitalismo inglês e francês dos séculos XVII e XVIII. Desculpazinha vagabunda é essa!  E a mulher que me ama, esperando.
            Bem que ela poderia ligar, mas orgulhosa como é, não faria tal coisa. A obrigação é minha, e o tempo passando sem eu notar.
            Quanto ao tempo, não consegui perceber os cabelos grisalhos que chegaram, nem as rugas que tomaram conta do meu rosto. Apenas guardava um olhar juvenil no reflexo do espelho. Não pense que estou lamentando, ao contrário, eu exalto a maturidade. Não é por nada, mas envelhecer é um troço bacana.
            Acho legal quando vejo um(a) jovem cumprimentando um adulto de “senhor(a)” ou chamando de “seu(dona) fulano(a)”. Existe uma serenidade e respeito com o outro, o mais velho. Poder envelhecer é incrível e necessário, mas é preciso manter a mente púbere.
            A mulher que me ama, tem uma história de vida bem maior do que a minha. Passou por uma ditadura, viu o mundo correr feito louco para os braços da tecnologia. Ultrapassou as fronteiras da vida, ensinou um pouco do que aprendeu.
            E mesmo assim, faz 17 dias que não dou noticias.
            Outro dia, o Papa Francisco comentando o atentado terrorista no jornal francês  Charlie Hebdo, disse que "matar em nome de Deus é uma aberração. Mas também não podemos provocar nem insultar a fé dos outros. Se um grande amigo fala mal da minha mãe, ele pode esperar um soco, e isso é normal". Ora, quem não defenderia a sua mãe? Pois é, a mulher que me ama, é minha mãe. Nestes últimos dias, não telefonei e nem fui visitá-la. Veja o tamanho da minha dor de consciência.
            Fico pensando nas mães que perdem seus filhos para o crime, para as drogas, para a loucura do terrorismo ou da guerra. Lamento pelos filhos que perderam suas mães. Ainda bem que amanhã é domingo. Vou passar o dia com a mulher que me ama: mamãe! A dona Belinha.