sábado, 3 de agosto de 2013

Uma oportunidade, uma medalha de ouro

Uma oportunidade, uma medalha de ouro
(Luciano Roberto)

Quando fui transferido para trabalhar na Escola Municipal Professor Roberto dos Santos Vieira, minha função era cuida da parte burocrática da escola, ou seja, a secretaria. Mas a diretora, na época Rosemi Araújo, achou melhor que desenvolvesse um trabalho na Sala de Leitura que tinha e tem um acervo de livros muito bom. Como adoro ler, gostei muito da ideia, pois passaria boa parte do tempo perto dos livros.


Porém, havia um problema que a escola estava enfrentando, as aulas tinham começado e muitas turmas estavam sem professores. Vários professores que chegavam na escola desistiam, devido a distancia e a dificuldade dos ônibus coletivos não entrarem no bairro. Foi devido a estas questões que surgiu a minha grande oportunidade. Em uma reunião na sala dos professores, no qual eu estava presente, a professora Andreia Mello, que tinha feito amizade logo de cara, e essa amizade se transformou em amor de irmão, e como irmãos muitas vezes íamos na “porrada” para defender ideais, fez mais ou menos o seguinte comentário para a professora Rosemi:

_Professora Rosemi, o Luciano é formado em magistério. Não é Luciano?

_Sou sim! Respondi de um único folego.
_Professora porque a senhora não dar uma turma para ele? Continuou a professora Andreia.

_Luciano você gostaria de lecionar, enfrentar uma sala de aula? Recorrendo a memória, foi quase esta a pergunta que a professora Rosemi fez.

_Professora Rosemi é o que eu mais quero! Respondi quase sem voz.

Todos os colegas que estavam presentes gostaram da ideia. Tinha vinte anos de idade quando assumi a minha primeira turma. Sala 04, turma Tiago de Mello, 2ª série, hoje 3º ano.

Como nem tudo na vida são flores, a professora Rosemi comentou o seguinte.

_Só tem um problema, você não vai receber salário de professor, continuará a receber como cooperado, na época não chegava ao valor do salário mínimo.

_Não importa professora, eu quero do mesmo jeito! Respondi.

Passei a ler todos os livros sobre educação que caia em minhas mãos, Jean Piaget, Emília Ferreira, Paulo Freire etc. Tentava realizar aulas com metodologia construtivista. Realizei aulas maravilhosas que me marcaram profundamente e com certeza marcaram os meus alunos. Muitas vezes saia da escola com a camisa molhada de suor e orgulhoso por fazer um bom trabalho. Houve uma aula que criei o Capitão Tempo para falar sobre as “Estações do tempo”, fiz uma máscara de papelão, vesti uma camisa e bermudão, calcei uma meia que ia até o meio da canela e um tênis preto cano longo da All Star, sem contar o guarda chuva preto. Já ouviu falar da personagem Professora Maluquinha do escritor e desenhista Ziraldo, pois é, na Escola Roberto Vieira, havia o professor maluquinho, confesso que o meu primeiro ano como professor foi o melhor ano de todos. Paulo Coelho certa vez escreveu que “quando somos jovens temos toda a ousadia para lutar, mas não temos maturidade, quando envelhecemos temos maturidade suficiente, mas já não temos ousadia”. Ousadia ainda tenho, mas falta estimulo, não só para mim, mas para uma grande quantidade de colegas professores que conheço.

Em 2000, lá pelo mês de novembro, já tinha conquistado o meu espaço na escola e o respeito por parte dos pais pelo trabalho que desenvolvia. Neste ano aconteceu a primeira Feira de Ciências da escola. Havia um programa de ciências chamado o “Mundo de Bigman” (eu acho que se escreve assim, não lembro), que era apresentado na TV Cultura e eu adorava. Passou uma matéria sobre reciclagem de papel, como surgiu o papel e várias outra informações. Foi do programa que tirei a ideia de trabalhar com os meninos sobre essa temática.

Fiz um pequeno projeto interdisciplinar, que na época ainda era uma “coisa” nova para nós professores, envolvendo História, Geografia, Língua Portuguesa e Meio Ambiente. Passei a trabalhar com os alunos explicando a história do papel, mostrando em mapas onde localizava-se os países que desenvolveram o papel, produzindo textos e recolhendo o nosso próprio lixo, papel rasurado, jornal etc. Levei os alunos para o pátio da escola e mostrei como se fazia papel reciclado. No dia da feira, enquanto os colegas professores optaram por ficar em suas salas de aula, dividindo espaço com os alunos dos turnos vespertino e noturno, eu e minha turma ficamos no pátio. Logo de cara percebi que não dava para fazer uma boa decoração pois não havia paredes para colar cartazes. Usei a mesa onde os alunos merendavam, colei jornais ao redor dela toda, com o nosso tema: “Reciclagem de papel”. Peguei emprestado o liquidificador da escola, o globo e ficamos aguardando a vinda da comunidade. Nossa ornamentação era bem pobrezinha, enquanto que nas salas das colegas professoras eram tudo um show. Fiquei no inicio constrangido, “poderia ter feito algo melhor”, ficava pensando comigo mesmo.

Entretanto havia um grande diferencial entre o meu trabalho e os trabalhos das colegas professoras. Enquanto que os alunos das colegas explicavam o assunto com textos decorados ou com o papel na mão (a famosa cola), os meus alunos eram espontâneos, explicavam com convicção. Tinham realmente aprendido a história do papel e a importância da reciclagem. A feira começou as 8 horas da manhã e terminou as 18 horas. Seis alunos ficaram representando a nossa turma.
Quando terminou a feira, a professora Rosemi foi anunciar os vencedores. Eu pensava que não poderia ser o primeiro, mas ficaria ao menos em uma boa colocação. A professora falou do último até o primeiro (olha que era vários trabalhos!). Quando chegou do quinto até o primeiro o coração começou a disparar – havia uma competição sadia entre nós professores da escola. O terceiro lugar não recordo qual foi o tema trabalhado, mas foram os alunos do noturno que estudavam na Educação de Jovens e Adultos – EJA, que ganharam; o segundo lugar foi para o trabalho sobre “Lactose”, realizado pela excelente professora Luana e o primeiro lugar, advinha... Recordando a professora Rosemi, uma mulher de estrutura mediana, com o microfone na mão, anunciou o primeiro lugar.

_Em primeiro lugar... (neste momento ela olhou para mim e sorriu) o trabalho “Reciclagem de papel” da turma do professor Luciano Roberto...

Foi uma gritaria, a escola estava lotada, e praticamente ninguém questionou, a não ser a professora Luana e a professora Andreia que tiraram brincadeira comigo.

_Fala a verdade, você comprou os jurados...

Aconteceu uma premiação simbólica, medalhas para os alunos, os meus alunos ganharam a medalha de ouro. Geovanne que tinha 8 anos, um dos meus alunos todo orgulhoso com a sua medalha no peito fez o seguinte comentário:

_Professor nós fizemos o que nem a seleção brasileira fez.

_O que Geovanne? Perguntei.
_Nós ganhamos a medalha de ouro!
No ano 2000, houve as Olimpíadas de Sydney e a Seleção Brasileira de Futebol não foi campeão. Ainda hoje quando lembro do comentário do Geovanne meus olhos enchem de lágrimas. Deixei todo o material que tinha usado do mesmo jeito, sai com os meus alunos correndo, descendo a ladeira da rua Gergelim. Tínhamos feito o que nem a Seleção Brasileira fez, eramos campeões.

Passei aquele ano trabalhando e recebendo duas vezes menos que o salário de um professor. Não importava, tinha ganho a minha oportunidade e o Geovanne a sua primeira medalha de ouro.

Rocha Pombo e o livro: "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria"

Rocha Pombo e o livro "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria"
(Luciano Roberto)

No pequeno período (2004-2010), quando trabalhava como professor de História, com os alunos do Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano, no Centro Educacional Santa Teresinha - CEST, tradicional escola católica, administrada pelas freiras da Congregação Salesiana, Filhas de Maria Auxiliadora - FMA, localizada na Avenida 7 de Setembro, Centro de Manaus. Tinha como um dos meus lugares prediletos no CEST, a Biblioteca Dom Bosco. Era um prazer chegar cedo na escola, apenas para vasculhar aqueles velhos e belos livros.

                                      Livro de Rocha Pombo, 84º edição de 1965

Certo dia, a irmã Lidiane, estava fazendo uma reforma na biblioteca. Ela sabia que durante o turno matutino eu trabalhava na Escola Municipal Prof. Roberto dos Santos Vieira - SEMED, localizada no bairro João Paulo II, Zona Leste da cidade. A boa irmã, ofereceu-me duas caixas cheias dos mais diversos livros: matemática, literatura, contos, história etc. Liguei para a minha gestora, na época, professora Ana Maria, e levamos os livros para o Roberto Vieira. Duas caixas grandes até o tucupi de livros!

Como sou viciado em livros, peguei alguns para mim, principalmente os de História. Ainda hoje estão comigo, fazem parte do meu pequeno acervo, mais ou menos, 700 livros. Muitos comprei, outros emprestei e esqueci de devolver, e alguns poucos, fiz como a personagem do escritor australiano Markus Zusak. Sem deixar de mencionar os vários livros que ganhei de presente.

Tenho um amigo, Sidney Aguiar, também professor de História, que toda vez que vem em minha casa para filosofar, ao som de Raul Seixas, Zé Ramalho e algumas dúzias de cervejas, me trás um livro de presente.

Mas, voltando ao tema, tenho em minhas mãos o livro de José Francisco da Rocha Pombo. Um dos livros doados pela irmã Lidiane. Já tinha folheado antes, mas não tinha dado o valor que o livro merece, ou melhor, que a fonte histórica merece. "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria" é um livro didático de História que apresenta a mentalidade da historiografia brasileira no inicio do século XX.

A edição que tenho é a 84ª edição. Foi revista e atualizada pelo Professor Lourenço Filho e publicado em 1965. Um ano depois do golpe militar no Brasil. Imagine o fato de um livro ser reeditado oitenta e quatro vezes, em um país que ainda se arrasta para adquirir uma cultura do ato de ler!

Como um dos triunfos do historiador é a curiosidade, passei a pesquisar o ano da primeira edição. Na orelha do livro da capa final, que infelizmente esta rasgada , tem uma data no segundo parágrafo que diz o seguinte: "E, para [...] infantis corações [...] Brasil, Rocha Pombo [...] ano de 1917, escreveu [...] história do Brasil, a [...] 'Nossa Pátria'". Minha pergunta era: a primeira edição do livro é de 1917? Não tinha certeza, então consultei informações na internet.

Para a minha surpresa, encontrei em PDF, a "Monografia de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel e Licenciado em História. Curso de História, Setor de Ciências Humanas Letras e Artes, [da] Universidade Federal do Paraná", de Juliana Golin Xavier Vianna, escrito em 2009, em Curitiba, com o título: "A produção didática de Rocha Pombo: Análise de História da América e Nossa Pátria".

Segundo Juliana Vianna "a trajetória de José Francisco da Rocha Pombo ainda possui muitas lacunas e questões sem respostas, apesar de ser bastante estudada. Os dados sobre sua trajetória pessoal são poucos, suas obras são muitas vezes de difícil acesso e muitas de suas ideias estão esquecidas em arquivos e bibliotecas. Algumas obras receberam maior atenção da historiografia, mas muitas não são sequer citadas e conhecidas"(VIANNA, 2009, p.7).

Até então, não tinha nenhuma ideia de quem seria Rocha Pombo. Quanto a primeira edição, a autora afirma que "o livro Nossa Pátria merece destaque, pois foi editado mais de 80 vezes, certamente a obra de maior sucesso de Rocha Pombo. A data da primeira edição também não consta, mas acredito ser de 1917"(VIANNA,2009, p.8).

Para não sofrer influências do trabalho da Juliana Vianna, acabei limitando a minha leitura até a página oito da sua monografia. Tenho minhas reflexões que irei destacar mais adiante quanto ao livro de Rocha Pombo. O fato da autora demonstrar não ter certeza quanto a data de publicação da primeira edição do livro, me faz pensar que ela não teve acesso a reedição 84ª. Pois, como já citei, na orelha da capa do livro consta a data de 1917, e uma biografia resumida no livro, também apresenta o mesmo ano.
Quem foi o autor da "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria"? A própria obra responde. Na página 6, do livro, há uma biografia concisa de Rocha Pombo, confira:

José Francisco da ROCHA POMBO nasceu em Marretes, Paraná, a 4 de dezembro de 1857 e faleceu no Rio de Janeiro a 25 de julho de 1933.
Exerceu, desde jovem, incessante atividade intelectual, quer na imprensa, redigindo ou dirigindo jornais, quer como professor, quer ainda escrevendo uma série enorme de obras, sôbre gêneros os mais variados: ensaios, poemas, romances, obras de história.
Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1933, como titular da cadeira nº. 39, cujo o patrono é outro grande historiador brasileiro, Varnhagen [ no texto Varnha-gen, pois o hífen dar continuidade ao nome na linha abaixo]. Mas a morte, impediu Rocha Pombo de aí tomar posse.
A série de seus trabalhos é muito grande, e, entre êles, cumpre destacar os que se referem à História do Brasil, gênero em que empenhou grande parte de sua existência, em pesquisas minuciosas e criteriosa análise de documentos sôbre o nosso passado.
Desta sua atividade ficaram-nos as obras: "História da América" (1900), "Nossa Pátria" (1917), agora na 84ª. edição, "História do Brasil", em 10 volumes, (1915-17), "História de São Paulo" (1918), "História do Brasil" 1 Vol. (curso secundário e superior) lançado, recentemente, por "Edições Melhoramentos" em 12ª. edição, revista e atualizada por Helio Vianna, "História do Brasil", Curso Elementar, "História do Paraná" e "História Universal".

                                                           Rocha Pombo

Mais uma vez, veja a resposta da minha inquietação na biografia de Rocha Pombo, como um neopositivista, preocupado com datas, a primeira edição do livro é 1917.

E a obra? Bem, o livro tem 162 páginas. Esta dividido em 51 pequenos capítulos. O interessante é que os capítulos estão organizados em algarismo romano. O primeiro capítulo é Nossa Pátria e o último é O que é hoje o Brasil, além da Sinopse dos cinco séculos de nossa história, que começa na página 147.

Chamou a minha atenção três capítulos: o capítulo IX: Os Índios, página 24; o X: Os Africanos, página 28; e o XI: Os Europeus, página 29.

São nestes capítulos que percebemos como a historiografia brasileira viam e analisavam os índios, os negros e os brancos que colaboraram para a miscigenação da sociedade brasileira.

Para Rocha Pombo, os índios eram "muito dados à guerra. Entre selvagens isso era natural. Só o homem civilizado é que confia mais na razão que na fôrça, e procura resolver as questões pelo direito e não pelas armas" (POMBO, 1965, p. 26). Os índios, indivíduos "selvagens" que não possuem civilidade suficiente para viver em harmonia. Ora, o autor que morreu em 1933, foi testemunha da Grande Guerra (1914-1918), feita pelos homens civilizados da Europa.

Quanto aos negros "africanos para cá trazidos eram prêtos, mas de raça muito boa, principalmente de muito bom coração. Quase todos, em vez de odiar, ficaram logo querendo bem aos senhores. Sobretudo as mulheres foram grandes amigas das crianças. [...] A escravidão passou, e para sempre. Hoje, somos todos como irmãos"(POMBO, 1965, p. 29). Quantas negras não foram obrigadas a deixarem, ou perderam seus filhos para tornarem-se amas de leite dos filhos dos senhores de engenho? Quantos negros não lutaram e perderam a vida pela liberdade? Quanto sangue não foi derramado graças ao chicote do feitor a mando do senhor de engenho?

Rocha Pombo fala que a "vinda de europeus para o Brasil aumentou muito, depois que Martim Afonso fundou a primeira vila, São Vicente. Não demorou que muitos outros pontos da costa fôssem povoados. Vê-se, portanto, que a população do Brasil veio a formar-se de homens de três raças: os índios, que já estavam aqui; os africanos, que vieram como escravos; e os europeus, que tomaram conta do país. Por isso, o brasileiro tem as qualidades mais notáveis dessas três raças: - é altivo, amoroso e inteligente"(POMBO, 1965, p.31). Resumindo: o índio altivo, é orgulhoso; o negro amoroso, conformado com a escravidão; e o europeu, o civilizado, inteligente.

Muito fácil fazer críticas a um homem que viveu o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Com mentalidade e conhecimento deste período. Mas, o que importa é a sua dedicação a História, mesmo que hoje seja somente uma fonte histórica.

  • Referência:

POMBO, Rocha. Pequena História do Brasil: Nossa Pátria. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1965.

  • Site:
www.historia.ufpr.br/monografias/.../2.../juliana_golin_xavier_vianna.pdf (Consultado em: 01/08/2013).



segunda-feira, 29 de julho de 2013

GUTELV - Grupo de Teatro Experimental Lição de Vida

GUTELV - Grupo de Teatro Experimental Lição de Vida
(Luciano Roberto)

Saudade é um sentimento bom e ruim. Alguns dias atrás, na aula de História com os alunos do 3º ano 01, Ensino Médio, da Escola Estadual Gilberto Mestrinho, localizada no bairro Colônia Antônio Aleixo, enquanto elaborávamos uma performasse para apresentar na semana "Contra as Drogas", me veio a lembrança do GUTELV - Grupo de Teatro Experimental Lição de Vida. 


Tive a honra, oportunidade e sorte de participar de um grupo de jovens ousados, que faziam teatro. O grupo foi idealizado pelo sociólogo Raimundo Rodrigues, um tipo de homem que aparece na Terra uma vez a cada mil anos. Professor Raimundinho - como chamávamos - foi o amigo, o pai, o irmão e a bússola que guiou nossos destinos para a vida, nos incentivando a encarar os estudos e os livros.

O GUTELV foi criado em 1994, na Escola Municipal Themístocles Pinheiro Gadelha, no bairro Jorge Teixeira. Inquieto por um sentimento revolucionário, Raimundo Rodrigues professor de Geografia, elaborou uma peça teatral que tinha a mesma temática: "drogas". Convidou alguns alunos da escola para participarem, entre estes alunos estavam: Graças Medeiros (hoje Professora Mestre em Geografia), Ivete Azevedo, Cleodomar Viana, Neire Silva, Luciano Roberto (todos professores SEDUC/SEMED), Helena Alves (Assistente Social e Presidente Comunitária do bairro Jorge Teixeira) entre outros. Muitos alunos participaram do GUTELV, mas poucos foram militantes apaixonados pelo teatro como os alunos citados.

O professor Raimundo Rodrigues, assim como Platão, nos tirou da escuridão da caverna, no no nosso caso, o pequeno mundo periférico do bairro Jorge Teixeira, e nos mostrou a luz dos palcos. A performasse que apresentamos na escola foi tão boa, que nos convidaram para apresentar na Escola Técnica - atual IFAM, na Avenida Sete de Setembro. Um palco de verdade, com cortinas e tudo, simplesmente maravilhoso. Da Escola Técnica recebemos o convite para realizar uma apresentação na Universidade Federal do Amazonas, na época chamada apenas de UA. Apresentamos. Demos um show! Comovidos com a nossa apresentação, "porra, um bando de moleques de periferia, que nunca tiveram aulas técnicas de teatro, fazendo teatro de qualidade", acabamos ganhando uma bolsa de estudo, com o apoio da Universidade. Recebíamos vale transporte e o almoço do RU da UA. Passamos a ter aulas com Luiz Vitalli, um dos melhores diretores de teatro do Amazonas. Além da ajuda dos grandes atores: Paulinho Queiroz, Lília Machado e Francis Júnior. Estes atores, tornaram-se nossos ídolos.

Quando o projeto da bolsa de estudos terminou, passamos a frequentar o Espaço Pombal e o Teatro Chaminé. As vezes, tínhamos aulas na escola. A atriz Lília Machado fazia o sacrifício de ir até o bairro Jorge Teixeira aos sábados, e ficava conosco das 14 às 18 horas, para nos ensinar a paixão pelo teatro. Infelizmente, nenhum de nós seguimos a carreira de ator e atriz, mas conseguimos ser bons protagonistas nos palcos da vida, mudando as nossas próprias histórias. Graças a oportunidade que nos foi dada pelo professor Raimundo Rodrigues. Todos que participaram da criação do GUTELV seguiram suas vidas, mas nunca deixaram a amizade de lado, nos tornamos verdadeiros amigos, ou como costuma comentar Graças Medeiros quando, uma vez ou outra nos encontramos, uma família.
Pensando no momento histórico em que o Brasil vivi hoje, com as manifestações em todo o país, que tem a máscara de Fawkes em V de Vingança como símbolo, esta mesma máscara, lembra as máscaras que simbolizam o teatro, uma alegre e outra triste. A vida é assim, cheio de alegria e de tristeza, de luta e superação. Saudade é um sentimento bom e ruim, neste momento viva a felicidade. Valeu professor Raimundinho, valeu moçada do GUTELV!

domingo, 28 de julho de 2013

Alô, alô, Papa Francisco... aquele abraço

Alô, alô, Papa Francisco... aquele abraço!
(Luciano Roberto)

Uma grande semana viveu a Igreja Católica no Brasil. Não a toa, que muitos jornais estão chamando o líder máximo da igreja de o "Papa do Povo".


Logo pela manhã, acompanhei pela aquela emissora que não gosto de citar o nome, estupefato, vendo a quantidade de pessoas na praia de Copacabana esperando a Missa do Envio. Cerca de 3 milhões de pessoas! A alegria das pessoas era visível, jogando bandeiras, flores e diversos presentes. Fiquei emocionado ouvindo os gritos: "Esta é a juventude do Papa!".

Quando o Papa João Paulo II morreu no dia 2 de abril de 2005, aos 85 anos, a igreja ficou carente de algo extremamente importante para a instituição: o carisma. O alemão Joseph Aloisius Ratzinger, Papa Bento XVI, não apresentava tais característica.

Anacronismo total fazer comparações entre Bento XVI e os papas João Paulo II e Francisco. Mas, vamos pensar no que a igreja teria ganho nestes últimos 8 anos, caso Jorge Mario Bergoglio tivesse sido o sucessor de João Paulo II. Pelo menos teria conquistado a simpatia dos católicos.

Enquanto o polonês Karol Jósef Wojtyla, o Papa João Paulo II, lutava contra os nazistas alemães durante a II Guerra Mundial (1939 -1945), o jovem Joseph Aloisius Ratzinger, fazia parte da Juventude Hitlerista, aos 14 anos, em 1941.

Na hierarquia da igreja, Joseph Aloisius Ratzinger era o líder da Congregação para a Doutrina da Fé, antes de tornar-se Papa Bento XVI, uma espécie de tribunal da inquisição do século XX. Um dos seus atos foi perseguir o ex-frade brasileiro Leonardo Boff, e dissolver a Teologia da Libertação.

O bispo Francisco (como gosta de ser chamado) veio e encantou o Brasil. A Jornada Mundial da Juventude - JMJ, foi um sucesso, mesmo com alguns imprevistos e equívocos do governo carioca.

Até logo Chico, deve uma visita a cidade de Manaus. Em julho de 1980, João Paulo II esteve na capital do Amazonas, esperamos você em 2017. Valeu pela semana, valeu por trazer esperança, valeu por tudo papa Francisco. Até!

John Lennon e o fedelho do Paul...

John Lennon e o fedelho do Paul...
(Luciano Roberto)

Certa vez Ringo Starr, baterista da maior banda de rock do planeta The Beatles, disparou o seguinte comentário sobre Paul McCartney: "Nós somos os únicos dois beatles vivos, embora ele goste de pensar que é o único". Talvez o sir McCartney sempre pensou assim, desde os tempos de garoto na velha cidade inglesa, Liverpool.

Nada contra, o cara é um fenômeno! Não a toa que continua levando multidões para o seus shows, principalmente quando vem uma vez ou outra para o Brasil ganhar aquela grana!

Mas para John Lennon, Paul McCartney era um fedelho presunçoso.

John Lennon, líder dos beatles nasceu no dia 9 de outubro de 1940. Foi assassinado em Nova Iorque em 1980, se hoje estivesse vivo, teria 79 anos de idade. O gênio indomável foi o criador da banda britânica. Filho de Alfred Lennon e Julia Stanley, quando criança presenciou a separação dos pais, "o menino tentou uni-los, mas sem convencer nenhum deles. John então pegou a mão de Julia e partiu com ela". (COUTO, 2010, p. 17).

Não demorou muito e Julia Stanley entregou a guarda do seu filho para a sua irmã Mimi Smith e George Smith. marido dela. Ambos não tinham filhos. Um dos principais motivos foi a falta de condições de Julia para cuidar de John Lennon.

Criado pelos tios, John Lennon teve uma vida complicada, uma adolescência e juventude cheia de piração. Em 1955 seu tio George faleceu, três anos depois, morreu a sua mãe, "Julia não chegou a ver a fama do filho, pois em quinze de julho de 1958, quando John tinha dezessete anos, ela saía da casa de Mimi quando foi atropelada por um carro dirigido por um policial bêbado, Eric Clague". (COUTO, 2010, p.18).

A morte foi o imã que uniu John Lennon e Paul McCartney. Paul também perderam a mãe em outubro de 1956, vítima de câncer de mama. A dupla foi formada pela dor e a rebeldia do rock n' roll. Neste mesmo ano, John forma o Quarrymen, quando em 15 de junho "Ivan Vaughan leva Paul McCartney para assistir ao show do grupo Quarrymen na igreja de Woolton, e logo após John é apresentado a Paul, quo toca Twenty Fliht Rock. Paul recebe aprovação de John e entra para o grupo" (MALLAGOLI, 2004, p.30).

Em 1960, o grupo realizou diversas apresentações no Cavern Club em Liverpool, um espaço para ouvir música, namorar e lógico, se embriagar.

Foi no Cavern Club que o empresário Brien Epstein sentiu que a banda de Liverpool poderia ser grande. O próprio Brien, considerado por alguns biógrafos da banda inglesa o "quinto beatle", fez o seguinte comentário, quando encontrou-os pela primeira vez : "Fiquei impressionado de maneira imediata pela música deles, ritmo e sentido de humor sobre o palco. E inclusive quando os conheci mais tarde também fiquei impressionado pelo carisma pessoal dos rapazes. E foi neste mesmo instante que tudo começou"(COUTO, 2010, p. 52). Brien Epstein foi o responsável de tirar os garotos de Liverpool da caverna e levá-los para o mundo, e consequentemente, para a eternidade.

Quando Brien morreu em 23 de agosto de 1967, os atritos que já vinham acontecendo, levaram ao fim dos Beatles em setembro de 1969. No livro de Sérgio Pereira Couto, Dossiê John Lennon, diversos foram as situações que contribuíram para o fim da banda: "a morte de Brien Epstein, George Harrison como compositor, a relação entre John e Yoko Ono, situação empresarial, entre outros. Mas destaco a competição entre John Lennon e Paul McCartney. Havia uma rivalidade entre os dois, principalmente em relação a composição das músicas e a liderança da banda. Couto afirma que "John teria chamado a si e a Paul de egomaníacos, o que impedia de certa forma que George se destacasse".

Destaco alguns trechos da entrevista de John Lennon, em 21 de janeiro de 1971, retirada do livro "As melhores entrevistas da revista Rolling Stone", confira:

"Sempre se falou que os Beatles - e os Beatles falaram de si mesmos - eram quatro partes de uma mesma pessoa. O que houve com essas quatro partes?

Eles se lembram que eram quatro indivíduos. Veja, nós acreditávamos no mito Beatles também. Não sei se os outros ainda acreditam. Nós éramos quatro caras... eu conheci Paul e lhe disse: "Você quer se juntar à minha banda?". Então George se juntou e Ringo se juntou. Nós éramos uma banda que conseguiu ser muito, muito grande, é só. Nosso melhor trabalho nunca foi gravado.

Eu gostaria de fazer uma pergunta sobre Paul e continuar por aí. Quando vimos "Let It Be" em São Francisco, qual foi sua reação?

Me senti triste, sabe? Eu também me senti... aquele filme foi feito por Paul para o Paul. Esta é uma das razões pelas quais os Beatles acabaram. Não posso falar por George, mas sei muito bem que ficamos putos por ser coadjuvantes do Paul.
Depois que Brian morreu, foi isso que aconteceu, isso o que começou a acontecer conosco. A câmera era colocada para focalizar Paul e ninguém mais. Foi assim que eu senti. Além disso, as pessoas que montaram o filme, o editaram de tal maneira que Paul era Deus e nós estávamos lá o reverenciando. Foi assim que eu senti a coisa toda. E eu sabia que havia algumas tomadas de mim e Yoko que haviam sido cortadas por nenhuma outra razão além das orientações de Engelbert Humperdink, Me senti enojado.

Como você traçaria a ruptura dos Beatles?

Depois da morte de Brian, nós entramos em colapso. Paul tomou as rédeas e supostamente nos liderou. Mas o que estava nos liderando quando começamos a andar em círculos? Então nós terminamos. Isso foi a desintegração.

Você disse que saiu dos Beatles primeiro.

Sim.

Como?

Eu disse para o Paul: "Estou saindo". [...]
Então, nós estávamos conversando no escritório com Paul, e ele disse algo sobre os Beatles fazerem alguma coisa, e eu continuava dizendo: "Não, não, não" para tudo o que ele falava. Então chegou num ponto onde eu eu tinha que dizer alguma coisa, é claro, e Paul disse: "O que você quer dizer?".
Eu falei: "Quero dizer que o grupo acabou. Estou saindo". [...].

Bem, quando ele [Paul MacCartney] veio com essa história de "Eu estou saindo".

Não, eu não estava com raiva - que droga, ele é um ótimo Relações Públicas, cara, é só isso. Ele é provavelmente o melhor do mundo. Ele realmente faz um serviço e tanto. Eu não estava bravo. Nós todos

ficamos sentidos pelo fato de ele não ter nos dito que era aquilo que ia fazer. [...].

Qual foi a reação de Paul?
Veja bem, muitas pessoas [...] pensam que são os Beatles [...]. Bem, eu digo: vão se foder, sabe?, porque depois de trabalharem com um gênio por dez, quinze anos, eles começam a achar que são um. Pois não são.

Você se acha um gênio?

Sim, se há algo parecido com isso, eu sou um.

[...]"

A entrevista com John Lennon é bastante longa, começa na página 43 e vai até 72. Um gênio e um fedelho, que criaram simplesmente uma banda magnifica: The Beatles.


  • Li e indico:
CARLIN, Peter Ames. Paul McCartney: uma vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

COUTO, Sérgio Pereira. Dossiê John Lennon. São Paulo: Universo dos Livros, 2010.

MALLAGOLI, Marco Antônio. John Lennon por ele mesmo. São Paulo: Martin Claret, 2004.
WENNER, Jann S. e LEVY, Joe. Rolling Stone: as melhores entrevistas da revista Rolling Stone. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008.

  • Vi e indico:

O Garoto de Liverpool - Filme muito bacana que retrata a juventude de John Lennon em sua terra natal, as suas ousadias e a formação dos Beatles. O filme apresenta o momento em que o cantor descobriu a sua vocação para a música e de sua difícil relação com a mãe e tia Mimi.