sábado, 3 de agosto de 2013

Rocha Pombo e o livro: "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria"

Rocha Pombo e o livro "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria"
(Luciano Roberto)

No pequeno período (2004-2010), quando trabalhava como professor de História, com os alunos do Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano, no Centro Educacional Santa Teresinha - CEST, tradicional escola católica, administrada pelas freiras da Congregação Salesiana, Filhas de Maria Auxiliadora - FMA, localizada na Avenida 7 de Setembro, Centro de Manaus. Tinha como um dos meus lugares prediletos no CEST, a Biblioteca Dom Bosco. Era um prazer chegar cedo na escola, apenas para vasculhar aqueles velhos e belos livros.

                                      Livro de Rocha Pombo, 84º edição de 1965

Certo dia, a irmã Lidiane, estava fazendo uma reforma na biblioteca. Ela sabia que durante o turno matutino eu trabalhava na Escola Municipal Prof. Roberto dos Santos Vieira - SEMED, localizada no bairro João Paulo II, Zona Leste da cidade. A boa irmã, ofereceu-me duas caixas cheias dos mais diversos livros: matemática, literatura, contos, história etc. Liguei para a minha gestora, na época, professora Ana Maria, e levamos os livros para o Roberto Vieira. Duas caixas grandes até o tucupi de livros!

Como sou viciado em livros, peguei alguns para mim, principalmente os de História. Ainda hoje estão comigo, fazem parte do meu pequeno acervo, mais ou menos, 700 livros. Muitos comprei, outros emprestei e esqueci de devolver, e alguns poucos, fiz como a personagem do escritor australiano Markus Zusak. Sem deixar de mencionar os vários livros que ganhei de presente.

Tenho um amigo, Sidney Aguiar, também professor de História, que toda vez que vem em minha casa para filosofar, ao som de Raul Seixas, Zé Ramalho e algumas dúzias de cervejas, me trás um livro de presente.

Mas, voltando ao tema, tenho em minhas mãos o livro de José Francisco da Rocha Pombo. Um dos livros doados pela irmã Lidiane. Já tinha folheado antes, mas não tinha dado o valor que o livro merece, ou melhor, que a fonte histórica merece. "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria" é um livro didático de História que apresenta a mentalidade da historiografia brasileira no inicio do século XX.

A edição que tenho é a 84ª edição. Foi revista e atualizada pelo Professor Lourenço Filho e publicado em 1965. Um ano depois do golpe militar no Brasil. Imagine o fato de um livro ser reeditado oitenta e quatro vezes, em um país que ainda se arrasta para adquirir uma cultura do ato de ler!

Como um dos triunfos do historiador é a curiosidade, passei a pesquisar o ano da primeira edição. Na orelha do livro da capa final, que infelizmente esta rasgada , tem uma data no segundo parágrafo que diz o seguinte: "E, para [...] infantis corações [...] Brasil, Rocha Pombo [...] ano de 1917, escreveu [...] história do Brasil, a [...] 'Nossa Pátria'". Minha pergunta era: a primeira edição do livro é de 1917? Não tinha certeza, então consultei informações na internet.

Para a minha surpresa, encontrei em PDF, a "Monografia de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel e Licenciado em História. Curso de História, Setor de Ciências Humanas Letras e Artes, [da] Universidade Federal do Paraná", de Juliana Golin Xavier Vianna, escrito em 2009, em Curitiba, com o título: "A produção didática de Rocha Pombo: Análise de História da América e Nossa Pátria".

Segundo Juliana Vianna "a trajetória de José Francisco da Rocha Pombo ainda possui muitas lacunas e questões sem respostas, apesar de ser bastante estudada. Os dados sobre sua trajetória pessoal são poucos, suas obras são muitas vezes de difícil acesso e muitas de suas ideias estão esquecidas em arquivos e bibliotecas. Algumas obras receberam maior atenção da historiografia, mas muitas não são sequer citadas e conhecidas"(VIANNA, 2009, p.7).

Até então, não tinha nenhuma ideia de quem seria Rocha Pombo. Quanto a primeira edição, a autora afirma que "o livro Nossa Pátria merece destaque, pois foi editado mais de 80 vezes, certamente a obra de maior sucesso de Rocha Pombo. A data da primeira edição também não consta, mas acredito ser de 1917"(VIANNA,2009, p.8).

Para não sofrer influências do trabalho da Juliana Vianna, acabei limitando a minha leitura até a página oito da sua monografia. Tenho minhas reflexões que irei destacar mais adiante quanto ao livro de Rocha Pombo. O fato da autora demonstrar não ter certeza quanto a data de publicação da primeira edição do livro, me faz pensar que ela não teve acesso a reedição 84ª. Pois, como já citei, na orelha da capa do livro consta a data de 1917, e uma biografia resumida no livro, também apresenta o mesmo ano.
Quem foi o autor da "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria"? A própria obra responde. Na página 6, do livro, há uma biografia concisa de Rocha Pombo, confira:

José Francisco da ROCHA POMBO nasceu em Marretes, Paraná, a 4 de dezembro de 1857 e faleceu no Rio de Janeiro a 25 de julho de 1933.
Exerceu, desde jovem, incessante atividade intelectual, quer na imprensa, redigindo ou dirigindo jornais, quer como professor, quer ainda escrevendo uma série enorme de obras, sôbre gêneros os mais variados: ensaios, poemas, romances, obras de história.
Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1933, como titular da cadeira nº. 39, cujo o patrono é outro grande historiador brasileiro, Varnhagen [ no texto Varnha-gen, pois o hífen dar continuidade ao nome na linha abaixo]. Mas a morte, impediu Rocha Pombo de aí tomar posse.
A série de seus trabalhos é muito grande, e, entre êles, cumpre destacar os que se referem à História do Brasil, gênero em que empenhou grande parte de sua existência, em pesquisas minuciosas e criteriosa análise de documentos sôbre o nosso passado.
Desta sua atividade ficaram-nos as obras: "História da América" (1900), "Nossa Pátria" (1917), agora na 84ª. edição, "História do Brasil", em 10 volumes, (1915-17), "História de São Paulo" (1918), "História do Brasil" 1 Vol. (curso secundário e superior) lançado, recentemente, por "Edições Melhoramentos" em 12ª. edição, revista e atualizada por Helio Vianna, "História do Brasil", Curso Elementar, "História do Paraná" e "História Universal".

                                                           Rocha Pombo

Mais uma vez, veja a resposta da minha inquietação na biografia de Rocha Pombo, como um neopositivista, preocupado com datas, a primeira edição do livro é 1917.

E a obra? Bem, o livro tem 162 páginas. Esta dividido em 51 pequenos capítulos. O interessante é que os capítulos estão organizados em algarismo romano. O primeiro capítulo é Nossa Pátria e o último é O que é hoje o Brasil, além da Sinopse dos cinco séculos de nossa história, que começa na página 147.

Chamou a minha atenção três capítulos: o capítulo IX: Os Índios, página 24; o X: Os Africanos, página 28; e o XI: Os Europeus, página 29.

São nestes capítulos que percebemos como a historiografia brasileira viam e analisavam os índios, os negros e os brancos que colaboraram para a miscigenação da sociedade brasileira.

Para Rocha Pombo, os índios eram "muito dados à guerra. Entre selvagens isso era natural. Só o homem civilizado é que confia mais na razão que na fôrça, e procura resolver as questões pelo direito e não pelas armas" (POMBO, 1965, p. 26). Os índios, indivíduos "selvagens" que não possuem civilidade suficiente para viver em harmonia. Ora, o autor que morreu em 1933, foi testemunha da Grande Guerra (1914-1918), feita pelos homens civilizados da Europa.

Quanto aos negros "africanos para cá trazidos eram prêtos, mas de raça muito boa, principalmente de muito bom coração. Quase todos, em vez de odiar, ficaram logo querendo bem aos senhores. Sobretudo as mulheres foram grandes amigas das crianças. [...] A escravidão passou, e para sempre. Hoje, somos todos como irmãos"(POMBO, 1965, p. 29). Quantas negras não foram obrigadas a deixarem, ou perderam seus filhos para tornarem-se amas de leite dos filhos dos senhores de engenho? Quantos negros não lutaram e perderam a vida pela liberdade? Quanto sangue não foi derramado graças ao chicote do feitor a mando do senhor de engenho?

Rocha Pombo fala que a "vinda de europeus para o Brasil aumentou muito, depois que Martim Afonso fundou a primeira vila, São Vicente. Não demorou que muitos outros pontos da costa fôssem povoados. Vê-se, portanto, que a população do Brasil veio a formar-se de homens de três raças: os índios, que já estavam aqui; os africanos, que vieram como escravos; e os europeus, que tomaram conta do país. Por isso, o brasileiro tem as qualidades mais notáveis dessas três raças: - é altivo, amoroso e inteligente"(POMBO, 1965, p.31). Resumindo: o índio altivo, é orgulhoso; o negro amoroso, conformado com a escravidão; e o europeu, o civilizado, inteligente.

Muito fácil fazer críticas a um homem que viveu o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Com mentalidade e conhecimento deste período. Mas, o que importa é a sua dedicação a História, mesmo que hoje seja somente uma fonte histórica.

  • Referência:

POMBO, Rocha. Pequena História do Brasil: Nossa Pátria. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1965.

  • Site:
www.historia.ufpr.br/monografias/.../2.../juliana_golin_xavier_vianna.pdf (Consultado em: 01/08/2013).



Nenhum comentário:

Postar um comentário