Rocha
Pombo e o livro "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria"
(Luciano Roberto)
No
pequeno período (2004-2010), quando trabalhava como professor de
História, com os alunos do Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano, no
Centro Educacional Santa Teresinha - CEST, tradicional escola
católica, administrada pelas freiras da Congregação Salesiana,
Filhas de Maria Auxiliadora - FMA, localizada na Avenida 7 de
Setembro, Centro de Manaus. Tinha como um dos meus lugares prediletos
no CEST, a Biblioteca Dom Bosco. Era um prazer chegar cedo na escola,
apenas para vasculhar aqueles velhos e belos livros.
Livro de Rocha Pombo, 84º edição de 1965
Certo
dia, a irmã Lidiane, estava fazendo uma reforma na biblioteca. Ela
sabia que durante o turno matutino eu trabalhava na Escola Municipal
Prof. Roberto dos Santos Vieira - SEMED, localizada no bairro João
Paulo II, Zona Leste da cidade. A boa irmã, ofereceu-me duas caixas
cheias dos mais diversos livros: matemática, literatura, contos,
história etc. Liguei para a minha gestora, na época, professora Ana
Maria, e levamos os livros para o Roberto Vieira. Duas caixas grandes
até o tucupi de livros!
Como sou
viciado em livros, peguei alguns para mim, principalmente os de
História. Ainda hoje estão comigo, fazem parte do meu pequeno
acervo, mais ou menos, 700 livros. Muitos comprei, outros emprestei e
esqueci de devolver, e alguns poucos, fiz como a personagem do
escritor australiano Markus Zusak. Sem deixar de mencionar os vários
livros que ganhei de presente.
Tenho um
amigo, Sidney Aguiar, também professor de História, que toda vez
que vem em minha casa para filosofar, ao som de Raul Seixas, Zé
Ramalho e algumas dúzias de cervejas, me trás um livro de presente.
Mas,
voltando ao tema, tenho em minhas mãos o livro de José Francisco da
Rocha Pombo. Um dos livros doados pela irmã Lidiane. Já tinha
folheado antes, mas não tinha dado o valor que o livro merece, ou
melhor, que a fonte histórica merece. "Pequena História do
Brasil: Nossa Pátria" é um livro didático de História que
apresenta a mentalidade da historiografia brasileira no inicio do
século XX.
A edição
que tenho é a 84ª edição. Foi revista e atualizada pelo Professor
Lourenço Filho e publicado em 1965. Um ano depois do golpe militar
no Brasil. Imagine o fato de um livro ser reeditado oitenta e quatro
vezes, em um país que ainda se arrasta para adquirir uma cultura do
ato de ler!
Como um
dos triunfos do historiador é a curiosidade, passei a pesquisar o
ano da primeira edição. Na orelha do livro da capa final, que
infelizmente esta rasgada , tem uma data no segundo parágrafo que
diz o seguinte: "E, para [...] infantis corações [...] Brasil,
Rocha Pombo [...] ano de 1917, escreveu [...] história do Brasil, a
[...] 'Nossa Pátria'". Minha pergunta era: a primeira edição
do livro é de 1917? Não tinha certeza, então consultei informações
na internet.
Para a
minha surpresa, encontrei em PDF, a "Monografia de conclusão
de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel e Licenciado em História. Curso de História, Setor de
Ciências Humanas Letras e Artes, [da] Universidade Federal do
Paraná", de Juliana Golin Xavier Vianna, escrito em 2009, em
Curitiba, com o título: "A produção didática de Rocha Pombo:
Análise de História da América e Nossa Pátria".
Segundo
Juliana Vianna "a
trajetória de José Francisco da Rocha Pombo ainda possui muitas
lacunas e questões
sem respostas, apesar de ser bastante estudada. Os dados sobre sua
trajetória pessoal são poucos, suas obras são muitas vezes de
difícil acesso e muitas de suas ideias estão esquecidas em arquivos
e bibliotecas. Algumas obras receberam maior atenção da
historiografia, mas muitas não são sequer citadas e
conhecidas"(VIANNA, 2009, p.7).
Até
então, não tinha nenhuma ideia de quem seria Rocha Pombo. Quanto a
primeira edição, a autora afirma que "o livro Nossa
Pátria merece
destaque, pois foi editado mais de 80 vezes, certamente
a obra de maior sucesso de Rocha Pombo. A data da primeira edição
também não consta, mas acredito ser de 1917"(VIANNA,2009,
p.8).
Para
não sofrer influências do trabalho da Juliana Vianna, acabei
limitando a minha leitura até a página oito da sua monografia.
Tenho minhas reflexões que irei destacar mais adiante quanto ao
livro de Rocha Pombo. O fato da autora demonstrar não ter certeza
quanto a data de publicação da primeira edição do livro, me faz
pensar que ela não teve acesso a reedição 84ª. Pois, como já
citei, na orelha da capa do livro consta a data de 1917, e uma
biografia resumida no livro, também apresenta o mesmo ano.
Quem foi
o autor da "Pequena História do Brasil: Nossa Pátria"? A
própria obra responde. Na página 6, do livro, há uma biografia
concisa de Rocha Pombo, confira:
José
Francisco da ROCHA POMBO nasceu em Marretes, Paraná, a 4 de dezembro
de 1857 e faleceu no Rio de Janeiro a 25 de julho de 1933.
Exerceu,
desde jovem, incessante atividade intelectual, quer na imprensa,
redigindo ou dirigindo jornais, quer como professor, quer ainda
escrevendo uma série enorme de obras, sôbre gêneros os mais
variados: ensaios, poemas, romances, obras de história.
Foi
eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1933, como titular da
cadeira nº. 39, cujo o patrono é outro grande historiador
brasileiro, Varnhagen [ no texto
Varnha-gen, pois o hífen dar continuidade ao nome na linha abaixo].
Mas a morte, impediu Rocha Pombo de aí tomar posse.
A
série de seus trabalhos é muito grande, e, entre êles, cumpre
destacar os que se referem à História do Brasil, gênero em que
empenhou grande parte de sua existência, em pesquisas minuciosas e
criteriosa análise de documentos sôbre o nosso passado.
Desta
sua atividade ficaram-nos as obras: "História da América"
(1900), "Nossa Pátria" (1917), agora na 84ª. edição,
"História do Brasil", em 10 volumes, (1915-17), "História
de São Paulo" (1918), "História do Brasil" 1 Vol.
(curso secundário e superior) lançado, recentemente, por "Edições
Melhoramentos" em 12ª. edição, revista e atualizada por Helio
Vianna, "História do Brasil", Curso Elementar, "História
do Paraná" e "História Universal".
Rocha Pombo
Mais uma
vez, veja a resposta da minha inquietação na biografia de Rocha
Pombo, como um neopositivista, preocupado com datas, a primeira
edição do livro é 1917.
E a
obra? Bem, o livro tem 162 páginas. Esta dividido em 51 pequenos
capítulos. O interessante é que os capítulos estão organizados em
algarismo romano. O primeiro capítulo é Nossa Pátria e
o último é O que é hoje
o Brasil, além
da Sinopse dos cinco séculos de nossa história,
que começa na página 147.
Chamou a
minha atenção três capítulos: o capítulo IX: Os Índios, página
24; o X: Os Africanos, página 28; e o XI: Os Europeus, página 29.
São
nestes capítulos que percebemos como a historiografia brasileira
viam e analisavam os índios, os negros e os brancos que colaboraram
para a miscigenação da sociedade brasileira.
Para
Rocha Pombo, os índios eram "muito dados à guerra. Entre
selvagens isso era natural. Só o homem civilizado é que confia mais
na razão que na fôrça, e procura resolver as questões pelo
direito e não pelas armas" (POMBO, 1965, p. 26). Os índios,
indivíduos "selvagens" que não possuem civilidade
suficiente para viver em harmonia. Ora, o autor que morreu em 1933,
foi testemunha da Grande Guerra (1914-1918), feita pelos homens
civilizados da Europa.
Quanto
aos negros "africanos para cá trazidos eram prêtos, mas de
raça muito boa, principalmente de muito bom coração. Quase todos,
em vez de odiar, ficaram logo querendo bem aos senhores. Sobretudo as
mulheres foram grandes amigas das crianças. [...] A escravidão
passou, e para sempre. Hoje, somos todos como irmãos"(POMBO,
1965, p. 29). Quantas negras não foram obrigadas a deixarem, ou
perderam seus filhos para tornarem-se amas de leite dos filhos dos
senhores de engenho? Quantos negros não lutaram e perderam a vida
pela liberdade? Quanto sangue não foi derramado graças ao chicote
do feitor a mando do senhor de engenho?
Rocha
Pombo fala que a "vinda de europeus para o Brasil aumentou
muito, depois que Martim Afonso fundou a primeira vila, São Vicente.
Não demorou que muitos outros pontos da costa fôssem povoados.
Vê-se, portanto, que a população do Brasil veio a formar-se de
homens de três raças: os índios, que já estavam aqui; os
africanos, que vieram como escravos; e os europeus, que tomaram conta
do país. Por isso, o brasileiro tem as qualidades mais notáveis
dessas três raças: - é altivo, amoroso e inteligente"(POMBO,
1965, p.31). Resumindo: o índio altivo, é orgulhoso; o negro
amoroso, conformado com a escravidão; e o europeu, o civilizado,
inteligente.
Muito
fácil fazer críticas a um homem que viveu o final do século XIX e
as primeiras décadas do século XX. Com mentalidade e conhecimento
deste período. Mas, o que importa é a sua dedicação a História,
mesmo que hoje seja somente uma fonte histórica.
- Referência:
POMBO,
Rocha. Pequena História do Brasil: Nossa Pátria.
São Paulo: Edições Melhoramentos, 1965.
- Site:
www.historia.ufpr.br/monografias/.../2.../juliana_golin_xavier_vianna.pdf
(Consultado em: 01/08/2013).
Nenhum comentário:
Postar um comentário