(Luciano Roberto)
A estudante de Arqueologia e de prazer
(Capítulo 2)
Mariáh: cabelos negros, pele cor de jambo...
Mariáh
estava terminando seu trabalho de mestrado, pela Universidade Federal do
Amazonas – UFAM. Sua dissertação tratava do impacto da cultura do homem branco
sobre a vida dos jovens indígenas. Muitos jovens de São Gabriel da Cachoeira -município
distante 852 quilômetros de Manaus - haviam cometido suicídio. O objetivo da
sua pesquisa era entender os motivos que levavam estes jovens indígenas tirarem
a própria vida. Falta de identidade cultural?
Desde
que entrou para o Programa de Pós- Graduação em Arqueologia, MAriáh passou a se
envolver com o seu orientador, o Professor Dr. Joed Silva. Era uma relação
profana, onde sexo, drogas e intelectualidade se encaixavam como um
quebra-cabeça do cosmo.
Só
havia um problema. O professor era casado, bem conceituado no meio acadêmico, e
tinha uma reputação a zelar. Mariáh era apenas uma distração para que o
trabalho não se tornasse algo chato. Muitas estudantes já haviam se entregue ao
charme intelectual do doutor. Mariáh era apenas mais uma. Um relacionamento
livre, onde não poderia nenhum dos dois se apaixonar, ou pior, amar. Para o
professor Dr. Joed Silva, isto estava muito claro. Mas, e para Mariáh?
Os
encontros ocorriam principalmente quando aconteciam as pesquisas de campo. As
noites nas pequenas pousadas de São Gabriel da Cachoeira eram quase infinitas. Havia
todo um ritual místico.
Professor
Joed, acendia incensos e velas por todo o quarto. Espalhava uma carreira de
cocaína nas capas dos livros, em seguida, com uma tinta artesanal de urucum,
pintava seu rosto e o de Mariáh. Tirava sua roupa lentamente, sua boca o
levaria aos seios macios da jovem estudante, gritos indígenas ecoavam no
quarto, um portal entre passado e presente aparecia, efeitos psicodélicos eclodiam. Guerreiros das tribos Muras e Mundurucus surgiam no quarto em uma luta
com seus arcos, flechas e brados. Tudo parecia
real, orgasmo se misturava com os gritos fortes que ecoavam no quarto, até que
finalmente os dois voltavam para a realidade. Deitavam-se. Mariáh adormecia nos
braços do seu mestre.
Aproximando
quase três anos, Mariáh viajou entre todas as escuridões que os entorpecentes
poderiam permitir. O professor Dr. Joed Silva, já havia ensinado tudo o que era
possível sobre arqueologia e loucura para Mariáh, apenas esqueceu de ensinar
que no relacionamento intelectual, não deveria haver controle, e muito menos posse
ao desejo e a liberdade do outro.
Mariáh
estava preste a concluir o seu mestrado, quando viu a cena que ela não estava
preparada, quase enlouqueceu. Encontrou seu professor beijando ferozmente no
seu escritório, uma aluna novata. Professor Dr. Joed Silva era um mestre em
seduzir belas alunas. Mariáh abriu a porta, ficou paralisada, não falou uma
única palavra e se foi. Professor Dr, Joed, apenas fechou-a.
O
mundo parecia ter caído sobre os ombros de Mariáh, era próximo ao natal, estava
perto de concluir o mestrado. Não poderia aceitar ser apenas mais uma aluna usada.
Sentiu-se mal, a tristeza tomou conta do seu espírito jovem, queria buscar
refúgio. Soube de uma festa que iria ocorrer na Zona Leste, bairro Jorge
Teixeira.
Enoque e o trabalho de Papai Noel
(Capítulo 3)
Desde
que havia chegado de Barcelos, Enoque só tinha conseguido “bicos”. Foi auxiliar
de pedreiro, jardineiro e vendedor ambulante. Foi a noite, quando Papagaio
trouxe uma novidade. Surgiu uma oportunidade para trabalhar vestido de Papai Noel no Shopping Puai. Ganhava R$100,00
a diária. Uma moleza. Tinha apenas que ficar fantasiado, enrolando as crianças
e fazendo os pais gastarem. Além do mais, tinha direito a merenda e passava o
resto do dia sentado numa grande e confortável poltrona.
Papagaio
conhecia o “QI” – quem indica – para função. Enoque não era gordo, mas com
enchimento na roupa, ficaria muito bem. Enoque aceitou. No dia seguinte, estava
às 4 horas no shopping. Foi imediatamente contratado.
Antes
de começar a função, foi merendar. Um hambúrguer com refrigerante Baré. Sentou-se na mesa próxima a poltrona onde ficaria
até mais ou menos às 22 horas, dependendo da quantidade de pessoas que estavam no
shopping. Deu a primeira mordida no sanduíche, quase se entalou, quando viu a
mesma moça que tinha viajado no barco “Esperança”, na sua vinda para Manaus.
Era Mariáh.
Em
cima da mesa da moça, uma “torre” de cerveja, alguns livros, e uma tristeza no
olhar. Enoque engoliu o pedaço de hambúrguer, criou coragem, tinha uns dez
minutos para terminar o lanche, foi ao encontro da moça.
__“Olá,
como vai?” Perguntou Enoque, mas não esperava que Mariáh pudesse lhe
reconhecer, além do mais, já estava vestido com a roupa do Papai Noel.
__“Cai
fora Papai Noel, não estou a fim de falar com ninguém”. Respondeu Mariáh.
__“Espere...
Você talvez não lembre de mim, mas nos últimos seis meses, não teve uma única
noite que eu não sonhei com você”... Insistiu Enoque.
__“Quem
é você?”. A situação agora estava investida. Enoque conseguiu a atenção da moça
que continuava em seus pensamentos.
__“Eu
sou o rapaz que veio no mesmo barco que você. Eu vim de Barcelos, ajudei você
com suas mochilas, e... fiquei apaixonado. Lembra que eu falei bem baixinho que
você é linda”.
Mariáh
abriu um sorriso nos lábios, talvez estivesse precisando ouvir aquelas
palavras. Sabia que em pouco tempo não iria fazer mais parte do mundo do seu professor
orientador. Fez mais uma pergunta.
__“Como
é o seu nome?”
__“Meu
nome Mariáh, é Enoque.”
__“Você
lembra do meu nome?” Questionou mais uma vez a garota.
__“O
vento me ensinou o seu nome, nunca mais esqueci. Todas as noites eu sonho com
você!”.
Enoque
percebeu que a moça sofreu um impacto, devido ao fato dele lembrar o nome dela,
sentou-se na mesa, e passou a puxar assunto. Mas antes que pudesse falar mais
uma palavra, escutou a ordem de um segurança do shopping.
__“Ei
Papai Noel, está na hora de você assumir a poltrona!”
__“Tenho
que ir trabalhar agora, poxa, queria tanto conversar mais um pouco com você!”.
Falou Enoque.
__“Que
horas você vai sair?”. Interrogou Mariáh.
__“Saio
às 22 horas, lamento”... Enoque foi saindo lentamente da mesa, quando também
foi surpreendido.
__“Enoque
eu não tenho pressa, além do mais, tem esta “torre de cerveja” e este livro
para eu ler, vou te esperar”. Falou Mariáh.
Enoque
fantasiado de Papai Noel, começou a falar bem alto “Ho! Ho! Ho!”, tocando o
sino. “Feliz Natal para todos!”.
As
crianças começaram a chegar, assim como os seus pais. Enoque estava nervoso,
mas se sentia seguro toda vez que olhava para Mariáh e recebia um sorriso. O
tempo foi passando. Na segunda “torre de cerveja”, Mariáh levantou-se quase cambaleando,
enfrentou a fila junto com as demais crianças. Esperou a sua vez, chegou perto
do Enoque e falou suavemente em seu ouvido.
__“Papai
Noel, eu quero o Enoque de presente!”.
__“Ele
já é seu, totalmente seu!”. Respondeu Enoque.
Mariáh
retornou a mesa, pegou o livro que estava lendo, foi ao banheiro, urinou.
Rasgou uma das páginas do livro, enxugou a vagina e jogou o livro junto com a
página no cesto do lixo. Retornou a mesa, pensou que estava sendo estupida, bêbada
e esperando um rapaz do interior, que tinha como trabalho imitar a merda do
Papai Noel. Trabalho idiota, pensou. Mas, voltou atrás, idiotas são os pais que
inconscientemente trabalham para o capitalismo na ilusão de fazerem seus filhos
acreditarem em uma fraude! Mariáh não gostava do Natal, não gostava da lavagem cerebral
e comercial que as pessoas sofriam neste período.
O
tempo passou. A praça de alimentação estava ficando vazia. As crianças
escassas, Enoque não via a hora de tirar toda aquela roupa e maquiagem, sentar-se
próxima de Mariáh, se tivesse sorte, poderia até leva-la para outro lugar. Foi exatamente
o que aconteceu. Enoque foi dispensando, saiu quase que correndo, tirou a roupa
do bom velhinho no banheiro dos funcionários, colocou a roupa no armário e foi
ao encontro de Mariáh.
Enoque
chegou na mesa de Mariáh e praticamente não foi reconhecido por ela. Depois de
ter tirado a maquiagem, finalmente a moça lembrou-se do jovem de Barcelos.
__“Lembrei
de você!” Falou a garota.
__“Eu
sei, o Papai Noel falou que eu sou seu”.
__“Enoque
vamos sair daqui? Tem uma festa que eu quero ir”.
__“Vamos,
tenho apenas que pegar a minha grana”. Falou o rapaz.
Os
dois saíram em direção a parada de ônibus. Foi quando Mariáh indicou onde seria
a festa. Enoque não acreditou, o mundo conspirava a seu favor, a festa que
Mariáh desejava ir, era no bairro onde ele morava, Jorge Teixeira.
Entraram
no lotação, mas a situação de embriagues de Mariáh não permitiu que ambos
fossem a tal festa. Foram direto para o quarto do Enoque. Enoque tirou a roupa
da moça, colocou debaixo de um chuveiro, levou até a sua cama de solteiro, enxugou
os seus longos cabelos negros, vestiu uma bermuda velha e uma camisa amarelada
do seu time de coração, Rio Negro. Ficou sentado na cadeira olhando aquela moça,
fazia tempo que ela vivia em seus sonhos, e agora estava ali, embriagada e
fragilizada na sua frente. Tinha visto o seu corpo nu, era linda. O que teria
acontecido? Não teve coragem de fazer mais nada, apenas observava sua pele
macia, seus lábios belos. Ficou admirando Mariáh até dormir. Enoque estava feliz,
realmente o mundo conspirava ao seu favor.
(Continua...)
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