sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A barba do Papai Noel (Capítulo 4)

(Luciano Roberto)

Xeque-mate ou “xeque e mate”?
(Capítulo 4)

Arma RUGER LCP

Mariáh abriu os olhos. Não reconhecia a camisa que vestia e tão pouco o ambiente rústico onde estava. Tinha sede. Percebeu que havia uma garrafa pet com água gelada. O gelo havia derretido ao longo da noite. Viu o rapaz sentado adormecido em frente dela.

O quarto onde estava era um lugar humilde, mas limpo. Na parede uma cópia do período renascentista “A Última Ceia”, que foi pintado pelo italiano Leonardo Da Vinci. Será que o rapaz sabia quem era o autor daquela obra? Não havia objetos mobiliários, apenas uma mala no canto do quarto. Uma corda cortava o quarto no meio, sobre ela, algumas peças de roupa. Mariáh chamou o rapaz:

__“Enoque”...

Enoque abriu os olhos lentamente, parecia que estava tendo um sonho muito bom. Não sentiu vergonha ou culpa do lugar onde morava, apenas respondeu.

__ “Oi Mariah!”

Tiveram o seguinte diálogo:

__ “Aconteceu alguma coisa entre nós dois Enoque, eu... eu... não lembro de nada”.

__ “Não aconteceu, você exagerou na cerveja, tomou duas “torres de cerveja” sozinha ontem no shopping. Queria ir para uma festa aqui, no Jorge Teixeira”...

Antes que Enoque terminasse a sua fala, foi interrompido com um pedido de Mariáh.

__ “Venha para a cama, então”...

Enoque foi para cama, pegou nos cabelos longos de Mariáh, sentiu o cheiro da sua pele, beijou seus lábios vagarosamente. Seu corpo tremia. Tirou a velha camisa do Atlético  Rio Negro Clube, beijou cada um dos seus seios, lentamente desceu até ao seu umbigo. Tirou a bermuda, ficaram nus. Seus corpos se entrelaçavam, percebendo que um desejava o outro, apenas pequenos murmúrios, corações sentiam-se próximos um do outro, não havia mais nada, apenas o desejo, o sexo. Seus órgãos sexuais se contraiam. Chegaram ao orgasmo juntos, queriam gritar, mas mantiveram seus impulsos juvenis. Deitaram, beijaram-se, esperaram algum tempo e repetiram tudo novamente.

Desde que Mariáh começou um relacionamento com seu professor orientador, nunca mais tinha tido um orgasmo verdadeiro, sem necessidade de drogas. Sentiu seu corpo flutuar como as nuvens nos braços de Enoque. Os lábios quentes, a pulsação forte, o desejo verdadeiro.

Finalmente dormiram abraçados. Acordaram mais ou menos às 11 horas. Tomaram banho, saíram, foram para um restaurante barato na Feira do Produtor. Local central da Zona Leste de Manaus. Almoçaram. Mariáh começou a falar da sua vida, assim como Enoque.

A conversa chegou ao Professor Dr. Joed Silva. O papo começou pela Mariáh.

__ “Lembra-se daquele cara que estava comigo no dia da viagem que nós fizemos, vindo de Barcelos”?

__ “Lembro, foi naquela viagem que o destino me levou a você”... Respondeu Enoque.

__ “Ele é meu orientador no Programa de Mestrado em Arqueologia que eu faço na UFAM. Nós tínhamos um caso, já faz quase três anos. Mas ele apenas me usou, não passei de uma cadela, uma marionete nas mãos dele. Ontem eu estava com tanto ódio que seria capaz de matá-lo. Ele tem que pagar o que fez comigo. Eu não sou um objeto, que pode ser usado e depois descartado, sou um ser humano. Tenho sentimentos. Ele tem que pagar. Apesar de mal te conhecer, sinto que posso confiar em você. Enoque você me ajuda? Eu tenho um plano”.

Segurando as suas mãos Enoque perguntou:

__ “Mas, mas... que plano”?

__ “Vou fazer ele ir até o shopping onde você trabalha, quase no horário em que você deixa de interpretar o Papai Noel. Vou até o encontro dele, e lá vou dá xeque-mate naquele merda, cheio de vaidade. Ele vai se arrepender”.

__ “Mariáh eu posso ser prejudicado, e mal comecei a trabalhar no shopping”.

__ “Não te preocupa, tem muita gente nestes dias de Natal no shopping, ninguém vai perceber. Vamos estudar cada detalhe, ele vai ter que pagar”.

__ “Mas se ele vier para cima Mariá?” Enoque estava tenso com aquela conversa.

__ “Eu tenho uma arma pequenina, é de defesa, foi do meu pai. Ele me deu já faz algum tempo”.

__ “Onde vou colocar esta arma? Não posso colocar na cintura, nem no saco do Papai Noel... e as crianças?”

__ “Bem... coloca a arma embaixo da barba do Papai Noel. Vou transformar uma gravata borboleta numa espécie de recipiente para colocar a arma”.

A paixão quando acaba bruscamente, torna-se ódio. Mariáh certamente nunca amou seu professor orientador. Vivia o êxtase de fazer parte de um mundo que ela desejava para si, o mundo intelectual acadêmico. Mas aprendeu a odiar imediatamente, quando se sentiu usada e humilhada.

Em frente aqueles dois jovens, os garçons competiam entre si, na busca de mais fregueses. Nos restaurantes de comida farta e barata da feira, uma grande quantidade de churrasco. Carne de todos os jeitos e sabores. O cheiro delas corriam pela Feira do Produtor, junto com o vento que levava e trazia seus odores. Se Mariáh queria dá um xeque-mate no Professor Dr. Joed Silva, seria então Enoque apenas um pião no jogo de vingança da moça dos cabelos negros e lábios com sabor de açaí?

Um plano de vingança estava feito, agora era preciso colocar em prática. Xeque e mate!  

(Continua...)





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