(Luciano Roberto)
Xeque-mate ou “xeque e mate”?
(Capítulo 4)
Arma RUGER LCP
Mariáh
abriu os olhos. Não reconhecia a camisa que vestia e tão pouco o ambiente
rústico onde estava. Tinha sede. Percebeu que havia uma garrafa pet com água
gelada. O gelo havia derretido ao longo da noite. Viu o rapaz sentado adormecido
em frente dela.
O
quarto onde estava era um lugar humilde, mas limpo. Na parede uma cópia do período
renascentista “A Última Ceia”, que foi pintado pelo italiano Leonardo Da Vinci.
Será que o rapaz sabia quem era o autor daquela obra? Não havia objetos
mobiliários, apenas uma mala no canto do quarto. Uma corda cortava o quarto no
meio, sobre ela, algumas peças de roupa. Mariáh chamou o rapaz:
__“Enoque”...
Enoque
abriu os olhos lentamente, parecia que estava tendo um sonho muito bom. Não
sentiu vergonha ou culpa do lugar onde morava, apenas respondeu.
__
“Oi Mariah!”
Tiveram
o seguinte diálogo:
__
“Aconteceu alguma coisa entre nós dois Enoque, eu... eu... não lembro de nada”.
__
“Não aconteceu, você exagerou na cerveja, tomou duas “torres de cerveja”
sozinha ontem no shopping. Queria ir para uma festa aqui, no Jorge Teixeira”...
Antes
que Enoque terminasse a sua fala, foi interrompido com um pedido de Mariáh.
__
“Venha para a cama, então”...
Enoque
foi para cama, pegou nos cabelos longos de Mariáh, sentiu o cheiro da sua pele,
beijou seus lábios vagarosamente. Seu corpo tremia. Tirou a velha camisa do
Atlético Rio Negro Clube, beijou cada um
dos seus seios, lentamente desceu até ao seu umbigo. Tirou a bermuda, ficaram
nus. Seus corpos se entrelaçavam, percebendo que um desejava o outro, apenas
pequenos murmúrios, corações sentiam-se próximos um do outro, não havia mais
nada, apenas o desejo, o sexo. Seus órgãos sexuais se contraiam. Chegaram ao orgasmo juntos, queriam gritar, mas mantiveram seus impulsos juvenis. Deitaram, beijaram-se, esperaram algum tempo
e repetiram tudo novamente.
Desde
que Mariáh começou um relacionamento com seu professor orientador, nunca mais
tinha tido um orgasmo verdadeiro, sem necessidade de drogas. Sentiu seu corpo
flutuar como as nuvens nos braços de Enoque. Os lábios quentes, a pulsação
forte, o desejo verdadeiro.
Finalmente
dormiram abraçados. Acordaram mais ou menos às 11 horas. Tomaram banho, saíram,
foram para um restaurante barato na Feira do Produtor. Local central da Zona
Leste de Manaus. Almoçaram. Mariáh começou a falar da sua vida, assim como
Enoque.
A
conversa chegou ao Professor Dr. Joed Silva. O papo começou pela Mariáh.
__
“Lembra-se daquele cara que estava comigo no dia da viagem que nós fizemos,
vindo de Barcelos”?
__
“Lembro, foi naquela viagem que o destino me levou a você”... Respondeu Enoque.
__
“Ele é meu orientador no Programa de Mestrado em Arqueologia que eu faço na
UFAM. Nós tínhamos um caso, já faz quase três anos. Mas ele apenas me usou, não
passei de uma cadela, uma marionete nas mãos dele. Ontem eu estava com tanto
ódio que seria capaz de matá-lo. Ele tem que pagar o que fez comigo. Eu não sou
um objeto, que pode ser usado e depois descartado, sou um ser humano. Tenho
sentimentos. Ele tem que pagar. Apesar de mal te conhecer, sinto que posso
confiar em você. Enoque você me ajuda? Eu tenho um plano”.
Segurando
as suas mãos Enoque perguntou:
__
“Mas, mas... que plano”?
__
“Vou fazer ele ir até o shopping onde você trabalha, quase no horário em que
você deixa de interpretar o Papai Noel. Vou até o encontro dele, e lá vou dá xeque-mate naquele merda, cheio de vaidade. Ele vai se arrepender”.
__
“Mariáh eu posso ser prejudicado, e mal comecei a trabalhar no shopping”.
__
“Não te preocupa, tem muita gente nestes dias de Natal no shopping, ninguém vai perceber. Vamos estudar cada detalhe,
ele vai ter que pagar”.
__
“Mas se ele vier para cima Mariá?” Enoque estava tenso com aquela conversa.
__
“Eu tenho uma arma pequenina, é de defesa, foi do meu pai. Ele me deu já faz
algum tempo”.
__
“Onde vou colocar esta arma? Não posso colocar na cintura, nem no saco do
Papai Noel... e as crianças?”
__
“Bem... coloca a arma embaixo da barba do Papai Noel. Vou transformar uma gravata borboleta numa espécie de recipiente para colocar a arma”.
A
paixão quando acaba bruscamente, torna-se ódio. Mariáh certamente nunca amou
seu professor orientador. Vivia o êxtase de fazer parte de um mundo que ela
desejava para si, o mundo intelectual acadêmico. Mas aprendeu a odiar
imediatamente, quando se sentiu usada e humilhada.
Em
frente aqueles dois jovens, os garçons competiam entre si, na busca de mais
fregueses. Nos restaurantes de comida farta e barata da feira, uma grande quantidade de churrasco.
Carne de todos os jeitos e sabores. O cheiro delas corriam pela Feira do
Produtor, junto com o vento que levava e trazia seus odores. Se Mariáh queria
dá um xeque-mate no Professor Dr. Joed Silva, seria então Enoque apenas um pião
no jogo de vingança da moça dos cabelos negros e lábios com sabor de açaí?
Um
plano de vingança estava feito, agora era preciso colocar em prática. Xeque e
mate!
(Continua...)
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