segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A poesia no cotidiano do sujeito histórico


     A poesia sofreu um grande impacto nas últimas décadas. Foi ao pouco sendo esquecida, vista apenas nos suspiros de alguns utópicos apaixonados. Mas a poesia não deve ser abandonada completamente. Ela é uma ferramenta poderosa que pode ser utilizada por educadores em sala de aula.

     Foi com esta ideia na mente, que levei a poesia para a turma do 9º Ano 01, do Ensino Fundamental da Escola Estadual Gilberto Mestrinho em 2015. Um ano depois, sem querer, mexendo em meus arquivos, acabei encontrando elas hoje. Então, achei por bem socializar.

     São temas contemporâneos, que falam de luta, medo, tristeza e sofrimento. Claro que a poesia abrangem a todos esses sentimentos humanos, sem esquecer a paixão, o amor, desejos etc.  

   Os alunos escolheram uma temática que destacava a desigualdade social adolescente/juvenil e passaram então a produzir suas poesias. Elas foram declamadas através da realização de uma performance para os demais alunos da escola.

     A poesia crítica, que denuncia as mazelas deste mundo. Falando da vida e dos sujeitos históricos, que encontramos nos sinais, nas feiras, nas ruas... Sem expectativas, sem direito a sonhar.

     Destaco algumas delas agora.         

Flanelinha
(Diego Fernando)

Mim olho no vidro, no vidro do carro.
Tenho em minhas mãos um spray e um cabo.

Da vida ganho chute e tapinha,
O meu trabalho é de flanelinha.

Eu vejo pessoas por mim passando.
Olho o dia e já está acabando.

Ricos e humildes é assim...
Queria essa vida, quando eu chegar ao fim.

Mas disso não mais exijo
Dos meus sonhos eu até desisto.

O sinal vermelho abre
E para a calçada eu vou.

A noite tristonha chega
E sol quente já passou.


Juntar Latinha
(Diego Fernando)

O meu alarme soa,
Meu dia não começa a toa.
Mim levanto para trabalhar
Minha família “preciso” alimentar.

De bom não como nada
Mas eu gosto de sardinha
Minha sandália esta acabada
Ganho a vida catando latinha.

Todo dia é assim,
Então não é o fim.
Na vida, não dou gemido
E é assim que sobrevivo.

  
Vender Salgados
(Itamar Azevedo e Matheus Silva)

Crianças passam na rua e gritam:
“Salgado! Salgado!
Comprem, estou necessitado,
Pois, os meus pais estão desempregados.

De manhã cedo acordo,
Começo a enrolar a massa
E penso como o meu dia será?
Lembro que mais um dia vão me explorar.

Desde que me entendo por gente
Começaram a me explorar
Desde cedo,
O brilho quente do sol bate no olhar
E penso, sou apenas uma criança imaginando
A ser livre para sonhar.


Servente de pedreiro
 (Diego Fernando)
Tijolos carregam
Areia peneiram
Concreto farão
Pois serventes eles são.

Medindo a parede
Trena na mão
Maceira no chão
Plumo de enfeite na mão.

Escola eles faltam
Para fazer lajes altas
Poderia estudar
Mas é obrigado a trabalhar.


Malabarismo da vida
 (Sophia Leão)
O sinal vermelho fechou
O trânsito parou
Francisco pegou suas laranjas
E malabarismo realizou.

O condutor olhou
Fez cara de quem não gostou
Levantou o vidro do carro
E se isolou.

Francisco na rua ficou
Recebeu cinquenta centavos
Do condutor
Que estava atrás
Do primeiro condutor.

O sinal verde abriu
Francisco da rua sumiu
O futuro do Brasil
Sentado na sarjeta
chorou.



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