quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Pobre Leopoldina, amou sem nunca ser amada pelo mulherengo D.Pedro I

(Luciano Roberto)

D. Leopoldina: Imperatriz do Brasil

 O amor é um sentimento abstrato. Mas ninguém conseguiu conceitua-lo melhor este sentimento do que o poeta português Luiz Vaz de Camões. Escreveu o lusitano:

"Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer"¹

[...]

Ah, o amor! Escrever sobre algo tão complexo da alma e do sentimento humano, onde apenas os poetas possuem sensibilidade suficiente para entender, surgiu da mensagem do WhatsApp de uma querida colega. 

Ela digitou: "Escreve alguma coisa sobre amor não correspondido". Pensei e lembrei imediatamente da Imperatriz Leopoldina. Outra mensagem surgiu na tela do celular: "Tipo, homem q trabalha demais, não tem tempo para a família e nos feriados loooongos, vai jogar futebol com os amigos". 

Leopoldina! Maria Leopoldina, primeira esposa de D. Pedro I. Mas antes de falar um pouco da Imperatriz, permita que a poesia "Estatutos do Homem", do genial poeta amazonense Thiago de Mello, nos brinde sobre o amor.

[...]

"Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá a planta o milagre da flor.

[...]

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

[...]

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
Amar sem amor."²

[...]

Como pode alguém "amar sem amor"? Possivelmente a resposta está em amar mais o outro (marido, esposa) do que a si mesmo. Com exceção do amor materno, que considero o maior e o mais verdadeiro amor humano.

Talvez seja a pior forma de amar. Esquecer de se amar, declarar amor eterno para você mesmo, mesmo que seja diante do espelho. Alguns dirão que esta ideia é puro egocentrismo, ou narcisismo. Eu continuo acreditar em amor próprio.

Parece papo de terapia entre casais. Mas lembre-se, este é o Blog Pa[po]piro: Um novo papiro de papo e piração. O mais próximo que cheguei da Psicologia foi no meu tempo de aluno do magistério e na faculdade. Li alguns textos de Jean Piaget, Lev Vygotsky, Sigmund Freud e recentemente, alguns livros do Augusto Cury.  

Bem, voltemos a falar de D. Leopoldina.

Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, era austríaca. Filha do imperador Francisco II,  foi também cunhada do Napoleão Bonaparte. O mesmo que fez a família real portuguesa fugir de Portugal para a sua colônia - Brasil - em 1808.

O casamento de Leopoldina com D. Pedro I, foi uma jogada política. Como muitos casamentos da época, eram arranjados entre os pais. D. João VI e sua esposa Carlota Joaquina, pais de D. Pedro I, tinha interesse em casar seu filho com uma princesa europeia, do outro lado, Francisco II estava de olho em realizar comércio com Brasil. Ainda colônia de Portugal.

Faltou no casamento de D. Leopoldina o tão nobre sentimento: amor. Em compensação, não faltou interesse. Chegou ao Brasil em 1817. Mal sabia a futura Imperatriz do país dos trópicos o que passaria e sofreria nos próximos anos de sua vida.

Quando casou-se com D. Pedro, tinha 20 anos, e o futuro "pai da independência", 19 anos de idade. Leopoldina chegou ao Brasil em busca do amor de seu futuro marido, mas Pedro estava apaixonado por uma dançarina francesa Noémi Thierry. Começou mal o relacionamento, e ia piorar.

D. Pedro I era mulherengo, "não há consenso entre os historiadores sobre o número de amantes ou mesmo se foram tantas as que privaram da intimidade do imperador"³ Filhos então, foram 7 no primeiro casamento e 1 com D. Amélia, com quem se casou após a morte de Leopoldina. Quantidades de filhos com amantes, incontáveis! Eram muitos os filhos bastardos do imperador.

Leopoldina viveu no Brasil entre 1817 e 1826, quando veio a óbito. Durantes os 9 anos em que viveu no Brasil, ficou grávida nove vezes! Sobreviveram apenas 7 crianças, inclusive D. Pedro II, futuro imperador do Brasil. Ninguém sabe dos abortos realizados pela imperatriz.


Domitila de Castro: a Marquesa de Santos, amante de D.Pedro I

Entre as amantes de D. Pedro I, a que causou mais sofrimento a Leopoldina foi a Marquesa de Santos. Domitila de Castro, a Marquesa de Santos que nunca pisou os pés em Santos.

Veja trecho da carta que Leopoldina escreveu para sua irmã mais velha, Louison: 

"Há quase quatro anos, minha adorada mana, como vos venho escrito, por amor de um monstro sedutor, me vejo reduzida ao estado da maior escravidão e totalmente esquecida do meu adorado Pedro. Ultimamente, acabou de dar-me a prova de seu total esquecimento a meu respeito maltratando-me na presença daquela que é a causa de todas as minhas desgraças. Muito e muito tinha a dizer-vos, mas faltam-me forças para me lembrar de tão horroroso atentado que será sem dúvida a causa da minha morte"4.

D. Pedro I chegou ao cúmulo de nomear a sua amante "Titila" - era assim como ele chamava a amante em cartas e provavelmente em momentos íntimos - dama de companhia de D. Leopoldina.

Leopoldina sofreu até os últimos momentos da sua vida. Morreu jovem, com 29 anos. Estava arrependida de ter vindo morar no Brasil e de amar um homem que nunca a amou.

Quanto a você minha querida colega, ame a si mesma, deixe que ele perceba o quanto está sendo tolo por não valorizar o seu amor. Amor não correspondido se alimenta com desprezo. 






    

¹ http://www.suapesquisa.com/biografias/amor_e_fogo.htm (Acessado: 24/10/2016).

² http://www.jornaldepoesia.jor.br/tmello.html#estat (Acessado: 24/10/2016).

³ Revista de História da Biblioteca Nacional ( Ano 6; Nº 64, Janeiro 2011; p. 32).

4 Revista de História da Biblioteca Nacional ( Ano 9; Nº 107, Agosto 2014; p. 34).







2 comentários:

  1. PARABÉNS!
    Você descreveu sabiamente a realidade de muitas pessoas.
    :)
    Salet

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